domingo, 6 de julho de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo: 49



            Neal e Rachel se encaravam sabendo a gravidade da situação. Harabo dava provas de ter perdido totalmente o respeito à polícia e ao FBI. Ele sabia que era procurado. Mesmo assim, os acompanhava de perto. Talvez perto demais. Viu os dois deixando o local do casamento e, muito provavelmente, os seguiu até o hotel.
  


            - Eles já estão vindo. Vão cercar o perímetro. – Ele disse a esposa abraçando-a por trás enquanto ela olhava a foto sob o olhar nervoso da recepcionista. – Calma! Quero que fique tranquila.
            - George está bem?
            - Sim. Está com Ell. Agentes também irão para lá.
            - Então estou calmíssima. – Foi a resposta seca de Rachel antes de se virar e abraçá-lo. – É bom que ele apareça. Me economiza o trabalho de caçá-lo.

O primeiro dia de casados foi peculiar. Metade passado ainda no êxtase do sexo e o restante na apreensão de encontrar Harabo. Cercar o hotel, buscar por testemunhas, revisar câmeras de segurança, montar barreiras e colocar cartazes. Coisas que o FBI sabia fazer bem e das quais Harabo sempre conseguia escapar. Assim como ela e Neal. Sabiam que daquela maneira ele não seria pego. Peter andava nervoso para todos os lados. Harabo testava a todos. FBI e MI5 o queriam acabado.
Enquanto Shepherd e Henrique se juntavam a equipe do FBI na varredura ao entorno do hotel, Rachel tomou a decisão de agir. Ela e Shepherd  não se falavam desde sua internação e sabia o quanto ele sentia-se culpado. No momento, ia deixar assim a situação. Ainda não sabia se seria sozinha ou com a ajuda de Neal, mas tinha certeza de que algumas iniciativas seriam dela. Aquela conta era antiga e seria ela a quitar. Harabo não ia mais pegá-la desprevenida. Precisava inverter aquele jogo para tomar a frente e vencê-lo. Começaria garantindo uma rota de fuga. Mesmo que ela fosse usada apenas por Neal e George. Pedindo para Neal aguardá-la no saguão, entrou no banheiro feminino do hotel.

- Alô. Pode falar? – Assim que entrou, discou o número de Mozz. – Preciso da sua ajuda.
- Sim. Já estou sabendo de Harabo...desviei o sinal do rádio da polícia. – Ele explicou.
- Você é o melhor, Mozz. Mas preciso de outra coisa. – Rachel esperou um minuto antes de falar. – Prepare uma fuga. Para algum lugar legal para George crescer.
- Porque está pedindo isso para mim, Rachel? E o Neal?
- O Neal ainda não sabe, Mozz, mas logo ele estará longe de NY. – Era doloroso o que ia dizer. – Eu vou acertar as contas com Harabo e, se não sair como penso, talvez vocês precisem ir.
- Nós? – Mozz preocupou-se.
- Eu posso perder para Harabo. Ou posso vencê-lo e...ser presa. Nesse caso, nada mais prende vocês aqui. E você os levará para longe. Esse é o nosso segredo Mozz!
- Está bem. Mas você fará de tudo para vir conosco. – Que matasse Harabo e fugisse com eles.
- Pode apostar que sim. – Rachel disse antes de desligar.



Mesmo preocupado, Mozz fez o que Rachel pediu. Na verdade, apenas atualizou alguns de seus planos. Sempre teve rotas de fuga preparadas. Precisava apenas abrir espaço para algumas caixas de brinquedo de George. Sua única preocupação era Rachel. Ela estava a alguns passos de fazer bobagem. Surpreendeu-se quando o telefone voltou a tocar. Dessa vez era Neal.

- OI. Já está sabendo?
- Claro que estou sabendo, Neal! Como posso ajudar? – Ele não sabia se contava ou não do plano de Rachel.
- Preciso que organize uma fuga para nós. – Disse Neal sem saber que Mozz falava arrumando a mala. - Prepare um helicóptero. Podemos precisar.
- Ok...e os engravatados? Porque a pressa em fugir? Sabe que Rachel estaria abandonando o acordo com o FBI.
- O Harabo não vai desistir. E eu não vou deixar que ele chegue perto dela! – Neal a olhava de longe. – Não fico tranquilo sem vê-la nem por um minuto...depois do que ele fez da última vez. Ou eu o encontro e mato, ou nós fugimos.
- Seria capaz mesmo de matá-lo? – Mozz pressionou. De Rachel ele não tinha dúvida.
- Pode apostar! Se eu ficar na frente dele, eu o mato, Mozz. Ele já me tirou um filho e continua ameaçando a minha família. – Neal deu-se contra de algo e parou de falar. – Você sabe onde ele está?
- Não, mas se apareceu, é possível que algum...conhecido...saiba dele. Harabo não é invisível para andar em New York sem ser visto, Neal.
- Descubra! – Calou-se por um instante. – A Rachel vem vindo. Qualquer informação, ligue pra mim. Apenas para mim!

Quando Rachel chegou até Neal e beijou-o, era como se ambos soubessem que o outro guardava segredos. Não tinha como ser diferente. Estava no instinto de cada um deles. Assim como ambos reconheciam que juntos eram mais eficazes.

- Avisei para Peter que vamos sair daqui. – Ela lhe disse.
- Sim. Vamos para casa.

Mas no meio do caminho  Neal ficou sabendo que não era para casa que eles iriam. Rachel queria pegar algo no FBI. Quando chegaram ao andar da Colarinho Branco, ela pediu que ele ficasse vigiando enquanto ia pegar o que precisava. Neal, obviamente, não obedeceu e seguiu-a até a sala cedida por Peter a Shepherd e Henrique. Os poucos funcionários no local estavam ocupados apoiando a ação nos arredores do hotel. Ela não gostou, mas aceitou que Neal faria parte do plano. Dessa parte, ao menos.
- Shepherd sempre tem uma gaveta com armas extras. Vou pegar emprestado. – Ela disse enquanto procurava pela gaveta trancada à chave. – Preciso das suas ferramentas para abrir. Sei que estão no seu bolso, Neal.

Claro que estavam.

- Deixa que eu abro. – Não demorou muito e Neal viu que Rachel não só estava certa, como Shepherd mantinha um arsenal farto e diversificado. – Nossa! Ele saberá que você pegou.
- São armas reservas. As que ele e Henrique usam no cotidiano estão com eles. Tenho umas 24 horas até descobrirem. Nesse tempo, resolvo o que tenho para resolver.
- Se matar com essa arma, Rachel. O Shepherd pode ter problemas. Ela deve ser registrada. – Neal avisou-a. Nesse momento já não ligava para ela planejar matar. Parecia algo inevitável. Queria apenas que conseguisse escapar.
- Apenas eu e Henrique sabemos da existência dessa gaveta. Ele vai me incriminar e sairá tranquilo disso. – Ela pegou uma pistola e colocou na bolso da jaqueta. Também pegou uma faca e prendeu sua capa à perna esquerda. – Harabo me pegou desarmada uma vez. Não vai ter a segunda.
- Sim. – Ele concordou surpreendendo-a ao também pegar uma pistola. – Não é hora de estar desarmado.

            Era fim de tarde e eles deixaram o FBI planejando ir na casa de Peter para pegar George. Ambos tão calados quanto armados. Cada um pensando que precisava conferir seu plano de fuga antes de encontrar Harabo e tentar escapar de NY. Nos dois planos, estavam juntos no final, mas nenhum dividiu com o parceiro o que planejava fazer. Já estava escuro e eles estavam no meio do caminho quando o celular de Peter tocou.

            - Preciso de você, Neal. – Peter disse. – Quero conversar. Só nós.
            - Eu estou com a Rachel. Indo para a sua casa para pegar George.
            - Só você, por favor. – Peter disse.

            Neal pensou que  podiam ter conseguido alguma pista sobre Harabo e era melhor manter Rachel o mais afastada possível.
            - Ok. – E desligou. – Amor...o Peter quer conversar comigo e...você se importa de ir pra casa? Eu não queria te deixar sozinha mas...
            - Não tem problema! -  Ela queria estar sozinha para investigar algumas coisas. – Pego um táxi e vou para casa.

            Logo que chegou na casa do amigo, Neal deu alguma atenção ao filho que não via há quase 24hs. Mas George percebeu sua inquietação e logo choramingou. Ell então levou-o para a cozinha e deixou Peter tocar na conversa que interessava. Realmente era sobre Harabo. E Peter tinha fortes razões para não querer que aquela informação chegasse em Rachel.

            - Veja isso! – Disse Peter antes de dar play em um vídeo no notebook.



            A imagem era clara e mostrava Harabo entrando em um prédio pequeno e desgastado de uma área de NY bem menos bonita as que os turistas conheciam. Ele saiu aparentemente sem levar nada.

            - Estive lá.Vendem armas. – Peter falou travando o vídeo.
            - Não me surpreende.- Respondeu Neal sentindo o peso da pistola que ele tinha no bolso do casaco. – Sabem para onde foi depois?
            - Subiu em uma moto e o perdemos no trânsito. Também não temos imagens de como chegou aí. Só temos a confirmação de que está armado.
            - O que não é novidade nenhuma, Peter! – Neal esbravejou. – Porque não quis que Rachel viesse aqui?
            - Porque tenho mais uma coisa para te mostrar. – E novamente colocou um vídeo para rodar. – Veja.
            Neal viu quando Harabo saiu na moto e outra motocicleta o seguiu. Inicialmente não entendeu nada. Apenas quando Peter voltou o vídeo é que ele percebeu o fato do segundo homem ter chegado logo atrás de Harabo também.

            - Ele está sendo seguido! – Neal disse.

           
            Mozz havia recebido de um dos seus informantes a notícia que tanto esperava. Harabo finalmente tinha aparecido em seu radar. Havia oferecido uma pequena colaboração financeira para quem lhe dissesse onde o maníaco estava se escondendo. Um dos homens já tinha dito tê-lo encontrado, mas não deu o endereço. Era questão de tempo.

            - Sem local exato, sem dinheiro, meu amigo. Me traga a informação completa e serei generoso. – Avisou ao comparsa de longa data.

            Enquanto isso, continuava com seus planos de fuga. Tudo já estava bem encaminhado. Seus esconderijos e os de Neal foram esvaziados. Dinheiro, peças roubadas, passaportes, as coisas de George. Nada que os ligasse aquele apartamento ficaria para trás. Mas precisaria encontrar uma forma de, no dia seguinte, afastar Ell de George. Ela já tinha se oferecido para ficar com ele novamente enquanto todos estavam à procura de Harabo. E desconfiaria caso não deixasse. Sair sem se despedir de Ell e June seria o pior. Elas faziam parte da família. Até o Engravatado já fazia.

            - Mas é assim quem tem de ser. – Disse enquanto saía do apartamento levando algumas coisas para o helicóptero.

            Quando Rachel chegou ao apartamento, percebeu que estava sozinha. Trocou a roupa e vestiu preto. Seria uma noite para voltar ao crime. Depois andou por ali como se para despedir-se do lugar onde foi feliz. Poderia nunca mais olhar para aquele apartamento. Foi ao guarda roupa e sentiu falta de algumas coisas. O porta-retrato com a foto de George não estava ali. Mozz já estava agindo no que ela lhe pediu. Sorriu sabendo que ele ficaria bem independente de qualquer coisa. Abriu também a caixa onde ela e Neal haviam guardado as recordações de Lis. Um sapatinho, um brinquedo e uma roupinha. Não chorou. Agora aquelas peças traziam força.
            Também quis se despedir da sacada do apartamento. Lá ela e Neal jantaram sob as estrelas, brigaram e se amaram. As vezes, tudo na mesma noite. Aquelas estrelas tinham presenciado muito.
            Estava ali, sentada em silêncio profundo quando ouviu barulho na porta. Pelos passos, soube que era Mozz.

            - Neal?!?Está aí? – Ele entrou gritando. – Droga!

            Rachel observou-o da sacada arrumar algumas coisas e soube que ele seguia com a fuga. Quando ia lhe avisar que estava ali e Neal logo chegaria, por isso precisariam conversar sobre a fuga os três, ouviu o celular de Mozz tocar. E logo soube que deveria ficar atenta a conversa.

            - Diga! Descobriu? – A agitação de Mozz fez Rachel desconfiar ainda mais. – Diga o endereço e eu já transfiro a grana!

            Rachel sabia que não poderia se tratar de outra pessoa. Mozzie estava recebendo e anotando rapidamente a informação de que ela necessitava para vingar a morte de sua filha. Ela o viu escrever em um bloco e logo depois desligar o telefone.
            


            Depois observou-o discar outro número no aparelho. Mas demorou chamando e não atendeu. Na terceira tentativa, ele deixou um recado.

            - Droga, Neal! Já tenho o lugar onde Harabo está! Onde você e Rachel estão? Preciso abastecer nossa máquina de fuga. Me liga que te passo o local! – Disse sem saber que era observado da sacada.

            Rachel viu o amigo arrancar a folha do bloco e sair às pressas. Provavelmente iria fazer a transferência bancária para quem lhe trouxe a informação e depois acelerar a fuga. Achava que Neal iria matar Harabo ou o FBI prendê-lo. Mas não. Ela eliminaria Harabo. O FBI prendê-lo não era o bastante. E Neal não merecia se transformar em um assassino para vingar um crime que, na verdade, já fora uma vingança contra ela. Joseph Harabo era responsabilidade sua e seria ela a puxar o gatilho. Caminhou até a mesa e viu a marca que a força da caneta deixou nas folhas do bloco. Conseguia ler claramente.

            - Obrigada, Mozz!

            Enquanto deixava o apartamento, Rachel ainda cruzou com June. A senhora pareceu ver que havia algo de diferente em seu olhar.

            - Tudo bem,Rachel? Você está bem, querida? – A senhora questionou.
            - Sim. – Rachel parou por um momento. – Obrigada por tudo June. Tudo que já fez por Neal, Eu, Mozz e George. – Era uma despedida.

            Depois saiu pela calçada e puxou o capuz do casaco para esconder o rosto. Logo Neal e Peter poderiam perceber seu desaparecimento e colocar policiais para procurá-la. Precisava agir rápido. O local era distante e ela não podia perder tempo. A arma em sua cintura e a faca presa na perna a lembravam que não ia perder dessa vez.



            Quando Neal chegou em casa trazendo George adormecido, não estranhou encontrá-lo silencioso. Mas se apavorou ao constatar que Rachel não estava em parte alguma. Nem ela, nem Mozz. Ao pegar seu celular para tentar encontrá-la, viu ligações não atendidas. Ver que eram de Mozzie fez sua espinha gelar.

            - Onde a Rachel está, Mozz?
            - Rachel? Não sei...era para estar com você. – Mas isso não era o mais importante. Ele pegava no bolso o papel onde havia anotado. – Eu descobri o lugar! Espere que te digo! Harabo se esconde em no pórtico nos limites da cidade. Aquilo é território militar. A polícia jamais procuraria lá.
           
            Essa estava longe de ser a preocupação de Neal. Andando pela casa, viu sobre a cama a roupa que Rachel usou durante o dia.

            - Tem como a Rachel saber da localização dele?
            - Não...bom...eu acho. Só se ela ouviu quando... – Seria difícil, mas possível.
            - Droga, Mozz! – Neal se desesperou. O problema não era ela matar, mas morrer tentando. – Vem pra cá agora! Preciso que fique com George enquanto vou atrás dela.



            Vinte minutos se passaram até Mozzie chegar. Nesse tempo, Neal confirmou com June o fato de Rachel ter passado pelo apartamento e saído transtornada. Ela sabia, tinha certeza. E ia atrás de Harabo. Com a própria arma presa à cintura, Neal saiu para procurá-la. Disse para Mozzie que não precisava alertar Peter. Quando Rachel saísse do perímetro, a tornozeleira dispararia. Se é que o alarme já não fora dado.

            - Ele vai me procurar! Vai querer saber de vocês!
            - Despiste-o, Mozz! Você sabe como fazer! – Estava saindo pela porta. – E fique com George. O plano de fuga continua em pé e tem de estar com ele na hora de por em prática.

            Já na rua, Neal olhava para New York como quem se despede. Não voltaria ali. Quando amanhecesse, estaria fechando seu destino. Fugindo para outro lugar no mundo, ou, sendo preso por assassinato.



            Peter achava que teria uma noite de sono tranquila. Mas quando o relógio marcou 11hs e ele ainda acomodava a cabeça no travesseiro, seu celular passou a vibrar. Quando atendeu, foi informado que a prisioneira que estava sob sua tutela havia retirado a tornozeleira. Não sabiam onde estava Rachel Turner.

            - O que houve, Peter? – Elizabeth acordou assustada.
            - Ela encontrou o Harabo. Ela encontrou ele e foi atrás do desgraçado!

            Peter já sabia que seria assim, mas não estava pronto para iniciar uma nova caçada à Rachel. Não surpreendeu-se, também, no fato de Neal não atender ao celular. Sua única dúvida era se Neal estava com ela ou procurando-a. Mas sabia com quem conseguir a informação. Deu o alarme e 30 minutos depois FBI e MI5 estavam na casa de June. Até mesmo Elizabeth foi.
            A garrafa de vinho aberta, mas cheia, não convenceu Peter da aparente tranquilidade que Mozz desejava passar. A primeira coisa que Peter fez ao entrar foi olhar o berço de George. O menino estava ali. Sinal que Rachel e Neal estavam presos a New York. Nunca iriam embora deixando o menino.

- Boa noite para você também, Engravatado. – Mozz disse tentando ludibriá-lo.
            - Seria, se a tornozeleira de Rachel não tivesse sido rompida e encontrada em uma lixeira há oito quadras daqui. Para onde foram Mozzie? Agora!
            - E porque eu saberia?
            - Porque você sempre sabe, Mozz! – Peter não tinha paciência. – Eles foram atrás de Harabo! Pra onde? E depois? O que farão? Diga! Harabo vai matá-los, Mozz! Aquele bebê no berço vai ficar sem mãe e pai e a culpa será sua por eu não conseguir salvá-los!

            Aquilo era forte demais para Mozz. E Peter sabia. Usou o único argumento capaz de convencê-lo.

            - O pórtico nos limites da cidade. – Disse por fim.
            - O antigo farol? Mas aquilo é território da Marinha Americana. – Entrar lá, legalmente, dependia de autorizações.
            - Por isso Harabo se escondeu lá.

            Shepherd guiou sua equipe para lá imediatamente enquanto Peter incumbiu Diana de conseguir autorizações para entrarem. Peter tinha ainda outra preocupação.

            - Vai ajudá-los a fugir?
            - Eu não sei do que está falando engravatado. – Mozz mentiu. – Vou tentar usar das minhas fontes para descobrir mais informações de Harabo. Só isso.

            Peter riu sem acreditar em nada.

            - Só isso. Claro. – Então caminhou até o berço de George e pegou o bebê adormecido. – Vamos pra casa, Ell. Você ficará com George, com um policial no portão. Assim Mozz poderá trabalhar com suas fontes.

            Mozzie olhou a cena sem poder fazer nada. Assim Peter dificultava a fuga.

            Quando amanheceu, Rachel chegava ao pórtico. O lugar estava tranquilo. Apesar de ser território da Marinha, hoje era utilizado apenas para o turismo nos finais de semana. Ninguém vinha ali em outros dias e para entrar oficialmente era necessário autorização. Ela não entrou oficialmente. Foi simples esperar um momento de distração do guarda e passar pelos muros. Depois subiu a longa escadaria feita em pedra maciça. Do alto das pedras o visual era lindo, cercado por água e vegetação nativa, ao longe era possível ver a cidade. Já há algum tempo, quando subia, teve a sensação de ser observada. Harabo sabia que estava ali.

            - Rachel! Finalmente você chegou. Eu não esperava menos de você. – E lá estavam eles, finalmente, cara a cara.

            Ela não respondeu inicialmente. Apenas lhe apontou a arma. Estavam em pé de igualdade. Se um atirasse, o outro revidaria. Ambos terminariam mortos sobre as pedras.

            - Perdeu a língua, Rachel? – Harabo continuava provocando-a. – Seu pai foi mais falante antes de morrer.          



            - Não devia ter me deixado viva, Harabo. Perdeu sua chance de me matar. – Rachel ignorou a provocação contra seu pai.
            - É...mais um golpe com a barra de ferro e você estaria morta agora. Mas te tirei algo bem importante, ou não?

            Rachel firmou o maxilar sentindo os dentes baterem. Era verdade. Joseph Harabo já lhe tinha tomado duas pessoas muito importantes.

            Bem longe dalí, Mozz ficou sabendo que precisaria agir por uma ligação de Neal.

            - Tudo bem com o helicóptero?
            - Sim, com o helicóptero sim. – O problema era George estar na casa dos Engravatados.
            - É hora de você vir. Você não poderá pousar, então precisará de cordas de resgate.
           
Mozzie despediu-se de Neal já saindo para a casa de Elizabeth. Sabia que Peter havia deixado Ell em casa e que o FBI demorou para seguir ao local por conta da autorização. Mas Shepherd saiu antes. Agora, estranhamente, percebia que os métodos dele não eram tão corretos quanto os de Peter. Rachel não aprendeu com John tudo que sabia. A casa de Peter tinha um guarda na frente e outro nos fundos. Sua única chance, era contar com a ajuda de Elizabeth. Ligou para ela.

            - Será que pode...
            - Vá para os fundos Mozz. Vou chamar o guarda para um cafezinho. – Ell nunca decepcionava.

            Quando entrou, foi direto pegar George enquanto Ell ainda fazia companhia ao policial. Logo ela veio encontrá-lo e sabia exatamente o que ele faria. Mozz sempre foi contra despedidas. E não pretendia se despedir de Ell. Mas ali estava. Ele arrumava George, que estava acordado e sorridente, para a viagem enquanto ela o olhava com lágrimas nos olhos.

            - Isso vai te criar problemas com o engravatado. – Disse simplesmente. Estava claro que iriam fugir.
            - Deixe Peter comigo. – Ell respondeu simplesmente. – Cuidem-se nessa...viagem, Mozz.
            Com um abraço, eles se despediram.

            - Eu vou oferecer café ao outro guarda agora. Saia pela frente. – Era hora de dizer adeus.


            Quando Neal chegou ao pórtico ainda era muito cedo. Ele ficou satisfeito. Rachel não devia ter chegado há muito tempo. Viu pouco reforço militar e usou da esperteza, não da arma em sua cintura, para entrar. Não foi difícil. O guarda era muito jovem e destreinado. Estava acostumado apenas a pedir para turistas não deixarem lixo no local.



            Ele passou com todo o cuidado, sem ser visto. Era a vantagem de andar sozinho. Toda a equipe do FBI, com suas sirenes e distintivos, não teve a mesma facilidade.

            - Eu preciso passar! – Gritava Peter.
            - Sem mandado ninguém passa, Sr. – Respondeu o jovem agente uniformizado.

            Shepherd estava preso na mesma barreira desde o amanhecer. Chegou ali antes, mas não o haviam deixado entrar. Sabia que Rachel estava lá. E se Neal não estava ali, tinha ido encontrá-la. Ele conseguiu alguma entrada. Desistindo dos meios oficiais, deixou Henrique com a equipe de Peter e foi buscar outra entrada. Iria subir na pedra sem o mandado.

            No alto da pedra, Rachel e Harabo se encaravam. Nenhum arriscava o primeiro tiro. Rachel o estudava e até pensava se não valeria a pena dar o tiro, mesmo correndo o risco de morrer. Mas livrar-se daquele monstro.

            - Eu também não devia ter te deixado vivo, quando tive a chance. Estamos quites, Harabo. Hoje vamos decidir isso.
            - Vamos sem armas? Como daquela vez, Rachel? Só nos punhos. – Harabo ofereceu.
           
            Rachel riu.

            - Acha que eu sou burra? Se eu largar minha arma, você me mata na hora. – A faca grudada em sua perna não seria útil naquela situação.
            - Que falta de confiança, Rachel. Veja. – Ele fez sinal para a água que cercava o pórtico. – Juntos, nós atiramos a arma lá embaixo. 1...2...3...

            Rachel só largou a sua arma quando percebeu que realmente Harabo ia cumprir a palavra. Seria punho a punho. Ele só fez isso por não acreditar que ela estava recuperada do último atentado.
            Rachel escondia uma faca e sabia que Harabo podia ter outra arma também. Então pretendia derrubá-lo logo. Não seria com uma bala que o matéria, mas teria o prazer de atirá-lo naquele precipício, de preferência já morto. Avançou sobre Harabo e lhe deu um primeiro chute na barriga. Ouviu-o gemer e vir revidar. Com uma rasteira ele a derrubou nas pedras.
           
            - Quando John começou a me prosseguir eu o investiguei, Rachel. Queria descobrir todos os podres do seu papai. – Ele gritou tentando esmurrá-la. Percebia que ela continuava muito boa em se esquivar.
            - Meu pai não tinha podres para esconder. – Gritou em ela em resposta enquanto lhe dava uma joelhada, mas o via revidar com um soco no ombro.
            - Você era o podre dele! Você é o que ele escondia! Passou a vida escondendo porque você não era filha dele de verdade.
            - Eu sei disso. Não vai me desestabilizar falando da minha origem, Harabo. Aproveita pra lutar. Assim não vai me vencer.
            - É, ele te achou quando seus pais morreram num acidente de carro. Mas você acredita mesmo que ele não procurou pela sua família? Pela sua origem, Rachel? Acha mesmo? Não era a sua família a morrer naquele carro. Eram os seus compradores. Por isso ele e aquele parceiro dedicaram tanto da carreira a desmontar aquela quadrilha de tráfico de crianças. Você era uma dessas crianças. Ele podia ter encontrado seus pais. Mas não quis! Ele ficou com você! Manteve o crime!
            Os dois rolavam no chão e se desconcentrar ali seria perigoso. Harabo sabia e usava isso contra ela. Mas não era uma surpresa. Já tinha juntado aquela peças há algum tempo. Só preferia não pensar a respeito. Seu pai não ficaria sem investigar o passado da criança que encontrou. E o desespero de Nicolle ao saber que ela estava envolvida num caso de tráfico de crianças foi a dica final. Não importava. Não mais. Não apagava tudo de bom que eles fizeram por ela.
            As palavras de Harabo serviram apenas para lhe dar mais energia. Queria matá-lo. E se ele resistia a seus golpes. Seria, mais uma vez, com uma faca.

            - Cala a boca! – Afastou-o dela com um chute antes de puxar a arma presa na sua perna.
            - Acha que vai me matar com essa faca? – Harabo riu em deboche. Colocou a mão no bolso para pegar a outra arma que trazia.

            Rachel achava sim que conseguiria matá-lo com a faca. Chegou muito perto disso no passado. Podia conseguir agora. Tremeu quando o viu colocar a mão na jaqueta.
            Mas Harabo não havia pego a arma ainda quando Rachel ouviu um disparo. A bala atingiu o peito de Harabo, bem no centro. Ele caiu nas pedras sem poder fazer nada.

            - Neal! – Rachel gritou ao vê-lo simplesmente largar a arma.
            - Acabou. – Foi só o que ele disse. Ainda sentia o peso de ter matado pela primeira vez na vida. Mas estava aliviado pelo que fez. Pegou o celular e mandou uma mensagem mandando Mozz se apressar. Precisavam fugir. – Mozz está vindo. Temos que sair daqui logo.

            Rachel pegou a arma e limpou com a própria camiseta. Queria tirar dela as impressões digitais de Neal. Ele viu e estranhou.
           
            - Você vai sair daqui, Neal. – Rachel olhou-o duramente. Não seria fácil convencê-lo. – Você não é um assassino. Eu já tenho uma longa fixa. Sai daqui. Ninguém sabe que você esteve nesse pórtico. Pode ir embora, seguir com sua vida em qualquer lugar do mundo com George. Não tem mais nenhuma dívida com a justiça. Eu...só em fugir e tirar a tornozeleira...acabou o acordo.
            - Não! – Ele disse simplesmente batendo o pulso na arma e fazendo-a voltar para o chão.



            - Acabou para mim, Neal. Eu vou ficar aqui. Assumir a morte de Harabo! Ele ia morrer pelas minhas mãos. Você apenas se adiantou. E George precisa de você! Ele não pode crescer com os dois pais na cadeia! – Era doloroso, mas era verdade.
            - Não! Ouviu bem? Não! – Ele a sacudiu. – Fui eu a matar Harabo, não você. Mozz está chegando e nós vamos fugir. Ele já me avisou que o FBI teve dificuldade para liberar a entrada. O juiz não entendeu porque você tiraria a tornozeleira para vir a um antigo farol turístico. Ainda estamos bem a frente deles.

            Ao longe, eles ouviram o helicóptero se aproximar rapidamente. Se no passado Neal a traiu para ajudar a prendê-la, agora ele enganava o FBI para fazê-la fugir.

            - Você vai passar a vida fugindo, Neal. Se ir sem mim, tem sua vida de volta. – Rachel lembrou-o.
            - Eu já fugia muito antes de te conhecer, Rachel. Não se preocupe...vamos pra longe.
            - Recomeçar? – Ela perguntou.



            Neal olhou em volta antes de responder.

            - É um belo lugar pra recomeçar. – Disse simplesmente antes de lhe dar um beijo.

            O piloto contratado por Mozz aproximou-se o máximo que pode e, com cordas de resgate, deixaram a pedra. Perto dali, aterrissaram para seguir de carro até o aeroporto onde, por um jato fretado, deixariam o país. Mozz seria o piloto.



            Quando Peter chegou ao topo da pedra com toda a equipe do FBI e da MI5 não encontrou Rachel ou Neal. Mas o corpo de Harabo estava lá, com dois tiros no peito. A arma também  estava ali. Nas mãos de Shepherd. Inicialmente, não entendeu o que o chefe da MI5 fazia na cena do crime e segurando a arma.

            - Eu entrei sozinho enquanto vocês tentavam o mandado. – Shepherd falava friamente. – Cheguei na pedra e os vi ali. Harabo iria matá-los. Fiquei nervoso e atirei. Eu dei dois tiros no peito de Joseph Harabo.

            Aquela história estava errada. Peter percebia. Shepherd era um agente experiente. Não ficaria nervoso. Ele estava mentindo.
 
            - E onde estão Neal e Rachel?
            - Eu não sei...tentei convencê-los a ficar. Mas eles fugiram. – Ele não sabia bem o que dizer, mas era frio. – Rachel tirou a tornozeleira. Sabiam que ela voltaria para cadeia. Fugiram.
            - Eu vi um helicóptero passando aqui perto. Eles fugiram nele? – Peter pressionou.
            - Não que eu tenha visto. – Isso era verdade.
            - Você está mentindo. – Peter acusou.
            - Essa arma é minha, Burke. Eu disparei. O exame de balística encontrará pólvora nas minhas mãos. Pode testar.
            - Eu vou. – Peter respondeu já  pegando o celular para ligar para Ell.

            Shepherd não tinha medo do que iria enfrentar. Perderia seu cargo na MI5? Talvez. Mas as agências não fariam questão de prender quem matou Joseph Harabo. Ele era responsável pela morte de muita gente, inclusive agentes federais. Fez o que tinha de fazer.
            Quando chegou no topo da pedra e viu Harabo morto ao lado de sua arma, soube o que aconteceu. Rachel sabia onde pegar aquela arma. Ela havia cumprido a promessa de vingar a morte da filha e havia matado. Ao longe ainda viu o helicóptero. Ela tentaria fugir.
            Ele então juntou sua arma do chão e fez um disparo. Foi certeiro, no centro do peito de Harabo, já morto no chão. Era importante para suas digitais ficarem na arma e a balística bater. Alí não havia câmeras. Ninguém poderia questionar sua confissão. Estava cumprindo sua promessa a John de proteger aquela garota que ele viu crescer.

            Enquanto Rachel, Neal, Mozz e George decolavam para sua nova vida, Elizabeth dava a notícia para Peter. Ela havia sim facilitado a entrada de Mozz na casa e ele tinha levado George.

            - Como pode?!? Facilitou uma fuga?!?!? – Ele gritou. Temia nunca mais ver Neal.
            - Mozz nunca me disse que ia fugir.
            - Negação plausível, Ell? Você sabia!
            - Eles merecem ser felizes, amor. Eles merecem.
            - Eu sei, eu sei. Logo estarei em casa. – Ele respondeu simplesmente.

            Aquela mesma tristeza também era sentida no avião. A liberdade era bem vinda. Mas ela vinha com tristeza por se afastarem dos amigos. Só mesmo George não percebia e dormia tranquilamente sem saber que sua vida estava mudando muito.



            Antes de se livrar do celular, Neal fez uma última ligação. Precisava dizer adeus a Peter. Não poderia abandoná-lo assim.

            - Obrigada por tudo, parceiro. – Disse assim que ele atendeu.
            - Não faça isso! – Peter se afastou de todos e não disse o nome do amigo. No fundo, também acobertava a fuga. – Não precisa ser assim.
            - Sim, precisa. Despeça-se por mim de Ell, June, Diana e todos os outros. Nós nunca vamos esquecer o que vivemos aí.
            - Não é o fim!
            - Sim, é. Adeus, Peter. – Disse Neal antes de desligar o aparelho e atirá-lo fora.

Agora era pensar no futuro.

            - Uma nova vida nos aguarda, meus amigos. – Mozz era o mais animado. Ele sentia pela perda, mas superava melhor. – Demos adeus ao NY, mas ganhamos o mundo!

            Neal e Rachel se beijavam aliviados. Chegaram muito perto de dar adeus um ao outro eternamente. Agora recebiam uma nova chance.

            - E posso saber para que parte do mundo nós vamos? – Rachel perguntou agarrada ao marido.
            - Oui, bien sûr. – Sim, é claro, disse ele em francês.
            - França ? Paris ? – Neal cogitou.
            - Não é porque vocês estão de lua de mel que nós seremos tão obvios, Neal ! – Mozz reclamou. – Praia de Marselha, ao sul da França. Nosso destino final.
            - De muito bom gosto, mon ami. – Concluiu Neal

FIM

            NOTA DAS AUTORAS: ainda tem epílogo e cap extra! Aguardem!!
 

2 comentários:

  1. Estou chorando já,não queria que acabasse amei o cap,sempre quis que fosse o Neal a matar esse homem,e ele não sentiu pq sabia que era o certo,ai o Mozzi é tudo de bom gente queria casar com ele e fugir junto,amei o Sheperd fazer o que fez que eles sejam felizes juntos ai que dor no coração por estar acabando buaaaaa

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  2. OIIII
    Bem isso amiga! Ele n sentiu nada pq sabia q estava livrando o mundo de um monstro. Eu amo o Mozz. Dizem q na sexta (e ultima :( ) temporada de WC aparecerá a mulher do Mozz. Ele tem família mas n aparece em casa há 5 amos kkkkkkk. Se é verdade, n sei. Mas ele é tudo de bom!!!!!!

    nos falamos nos próximos. bjssss

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