segunda-feira, 14 de abril de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 39









Três dias depois....
O relógio marcava 7h30min da manhã e Neal estava dando a mamadeira de George. Ele já comia muitas papinhas e seu primeiro dentinho estava saindo, mas seu café da manhã era uma mamadeira.

Ele já estava pronto, vestido para o trabalho como todos os dias, a não ser por um detalhe: não usava mais perfume. O aroma suave que ele sempre adorou agora estava proibido porque como Rachel disse, era dar adeus ao perfume ou voltar a usar tornozeira com raio de quilômetros de distância dela! O perfume a fazia enjoar ainda mais. Não que ficar sem perfume garantisse algo. Todas as manhãs eram dramáticas. Não importava o quão leve fosse o jantar ou a forma como Rachel levantava da cama, ela sempre começava o dia vomitando. E isso era garantia de uma mulher irritada. Ultimamente, sua namorada estava alternando três estados de ânimo. Conseguia em um curto espaço de tempo chorar por se sentir feia, ficar irritada e brigar com ele por qualquer coisa e, ainda ataca-lo sexualmente com um desejo estranho até para eles. Ele já antecipava que não sofreria de monotonia nos próximos meses.

Um problema permanecia. Além de Ell, apenas Mozzie sabia da gravidez. Com ele passando tanto tempo no apartamento, era praticamente impossível esconder. Seu amigo foi tipicamente Mozzie ao receber a notícia. Primeiro duvidou, depois o parabenizou e perguntou se eles pretendiam repovoar Nova York. Afinal tinham um bebê de 7 meses e outro a caminho.


No dia seguinte Mozz apareceu com uma pasta.

- O que é isso? – Neal perguntou sem entender nada.
- Uma pesquisa completa sobre controle de natalidade e métodos contraceptivos. Acho que você e Rachel faltaram nessas aulas. Acho que deveriam ler.
- Mozz...- Porque achavam tão grave? Ele estava achando ótimo ter outro filho.
- Neal! Você já pensou em quantos filhos pode ter por aí? Se a Rachel servir média e nós multiplicarmos pelas namoradas que você teve isso dá um resultado de...
- Chega Mozzie! Eu não tenho mais nenhum filho por aí! – Não tinha a possibilidade. – Eu me descuidei com a Rachel porque nós temos uma relação estável.
- Estável? Eu deveria ter te trazido um dicionário também. 

Neal acabou deixando a opinião dos outros de lado. Ele estava mais que orgulhoso. Nos últimos dias, alguns colegas no FBI vinham perguntando da onde vinham tantos sorrisos. Ele realmente não conseguia nem desejava esconder sua felicidade.


-  É porque agora a Rachel pode ficar na casa dele. – Jones gritou. – Não precisa mais contar os segundos para o final de semana. Não é Caffrey?
- É, é isso sim. – Por enquanto era melhor manter o segredo.

Eles trabalharam normalmente nos dias que se seguiram e Rachel vinha conseguindo manter a aparências. Apenas uma tontura foi percebida por Diana. Era complicado porque se comia, ela sentia enjoo, se não comia ficava tonta. Então era sempre uma preocupação. Mesmo que os dois dias anteriores tivessem sido bem calmos, sempre que ficava nervosa acabava passando mal. E nervosismo era algo muito natural para Rachel.

O pior foi ontem quando Sara apareceu no apartamento. Rachel não tentou impedi-la de ficar. Mas também nos os deixou a sós. Melhor. Assim não teria porque ter uma crise de ciúme depois.


            - Oi, boa noite. – Ela entrou muito tímida. – Eu não queria atrapalhar nada.
            - Não está atrapalhando. – Ele respondeu. – Quer beber algo?
        - Não. – Ela olhou para Rachel. – Eu só vim...pedir desculpas por ter mandado te prender. Eu precisava cumprir minha obrigação, Neal. Você entende?

            Foi muito constrangedor vê-la pedir desculpas por não confiar nele quando, no final das contas, o quadro original estava bem guardado por Mozzie. Rachel sabia e aceitou facilmente. Ela era como e aceitou que se Mozzie teve a oportunidade, fez o certo. Ninguém se daria conta mesmo. Mas se Sara soubesse, ele não passaria mais nenhuma noite em casa. Ela voltaria a colocar a polícia em sua cola. Sara era profissional, não deixava os sentimentos prevalecerem. Achava bonito isso nela. Porém, cada um lutava com as suas armas.

            - Não se preocupe, Sara. Vamos deixar as mágoas no passado. Esquecer esse mal entendido. – Deu seu sorriso mais sincero. – Quando você volta para a Inglaterra?
            - Não volto!
            - O que? – Dessa vez foi Rachel a se manifestar. – Já tem seu quadro. E um cargo lá lhe esperando. Não?
            - Sim. Mas eles me oferecem o mesmo cargo na unidade daqui e eu aceitei. Fui pra lá na esperança de descobrir algo da minha irmã e não consegui. Então vou ficar aqui.
            - Legal Sara. – Neal respondeu já antecipando o problema que isso traria. Ela e Rachel na mesma cidade seria o caos.

            E ele estava certo em antecipar problemas porque quase instantaneamente Rachel passou a  sentir ciúme de Sara. Ainda bem que ele conseguiu contornar a situação com muito carinho. A gravidez tinha deixado Rachel mais carente. A viu entrar na cozinha abatida.

            - Bom dia. Tudo bem?
            - Bom dia. – Ela respondeu com um sorriso tímido. – Tudo. Tive pouco enjoo hoje.
            - Toma café e come alguma coisa.
            - Não! Nem pensar. Meu estômago está tranquilo...vou manter ele assim.
            - Você já perdeu peso, Rachel! – Ela estava mais magra de tanto vomitar e evitar comida. – Tem que comer.
            - Não começa com sermão, Neal. Depois eu como. – Eles virão Mozz entrar e ir direto ficar com George depois de lhes dar um animado bom dia. – Vamos para o trabalho?

            No FBI a manhã prometia ser calma e monótona. Só prometia! Quando Rachel e Neal colocaram os pés lá dentro, todos os olharam. Algo de errado acontecia. Havia um silêncio pairando no ar. Rachel e Neal se olharam. O que poderia ser. Diana se aproximou.

            - O que foi? – Rachel perguntou.
           - A MI5 está aqui...acho que é por você Rachel. – Ela ouviu e empalideceu no mesmo segundo. Sem perceber, apertou a mão de Neal mais forte e levou a outra sobre a barriga. – Peter disse para você ir lá quando chegar.
            - Claro..eu já vou. – Mas não deu nenhum passo em direção a escada.
            - Vamos juntos, Rachel. – Neal disse.
            - Acho que o recado era apenas para mim.
           - É...mas recados podem ser mal compreendidos. Eu vou junto. – Ele a abraço e discretamente tirou sua mão de sobre a barriga. – Mantenha a calma. Não podem simplesmente te levar para Europa. Há um acordo com o FBI. E pensa sempre que se algo mudar, nós temos alternativas.

            Foi pensando assim que Rachel ergueu a cabeça e entrou na sala de Peter sendo seguida de perto por Neal. Não sabia se o que viu era positivo ou negativo. Seu antigo superior e seu parceiro estavam com Peter. Todos se levantaram e a observaram com expressão fechada. Peter se levantou e falou.

            - Rachel, acredito que se lembre dos agentes Edbert Shepherd e Henrique Bezhani.
Rachel explicou para Neal.
            - O Agente Edbert foi meu supervisor. Era o chefe da minha divisão...além de ter sido parceiro do meu pai por muito tempo. E Henrique foi meu parceiro em algumas investigações.

            Neal olhou Henrique observando Rachel com olhar neutro, quase carinhoso. Dificilmente representaria problemas. O mesmo não podia dizer do mais velho. Edbert podia ter tido uma relação carinhosa com o pai de Rachel, mas seu olhar não era de nenhum sentimento bom. Se tivesse que apostar, diria que se tratava de um homem rancoroso.

            - Turner! – Chamou com voz séria.
            - Senhor! – Ela respondeu endireitando a postura. Era como se voltasse ao tempo em que estava na sede da MI5 sob as ordens daquele homem. – É uma surpresa vê-lo.
            - Imagino. Eu esperei muito para pôr os olhos em você novamente. – Ele olhou para Neal. Conhecia a fama do ladrão e falsificador. – E você, Neal Caffrey, vejo-o tocando-a na cintura. Eu fiquei sabendo do ‘belo’ casal formado. Só não sabia que o FBI permitia isso nos corredores...e Peter acaba de me explicar que a condenada passa as noites na sua casa. Depois de tudo que você fez, Turner, você ganhou a condenação que pediu aos céus!
            - Eu devo dizer que não há nada de errado em eu tocar a cintura de minha namorada. – Neal confirmou que não gostava dele.
            - Eu não falei com você! – Ele se voltou para Peter. – Você se aliou aos melhores e piores ao mesmo tempo. Espero que saiba controlá-los.
            - Eu respeito sua opinião, mas Neal Caffrey trabalha comigo há cinco anos e é de muito valor para a equipe. E até o momento, Rachel Turner vem nos ajudando muito. Não tenho reclamações.
            - Sim. Eu também pensei assim. Até o dia que ela me apunhalou pelas costas. – Ele lhe deu um olhar frio. – Não confie nessa mulher. Ela não é o que aparenta. Me deixem sozinho com ela, por favor.
            - Acho que nós podemos resolver isso...- Neal tentou interferir.
            - É claro agente Shepherd. Pode utilizar a minha sala...só peço que seja breve. – Peter permitiu.

            Peter saiu junto com Neal e Henrique. O jovem não disse uma palavra e saiu contrariado. Logo Peter o afastou.

            - Jones, por favor, leve o agente Henrique Bezhani, da MI5, para tomar um café. Eu e Neal precisamos ver uma coisa. Tudo bem Henrique?
            - É claro, senhor. – Ele respondeu polido.

            Neal não queria ver nada. Mas acompanhou Peter. Os dois entraram numa sala pouco utilizada. E Peter ligou o computador e conectou um pendrive.

        - Ninguém me expulsa da minha sala para interrogar um agente meu! Não gostei do tom daquele homem. Fique com esse fone! – Ele tinha dois fones de ouvido nas mãos.
            - Você tem uma escuta na sua sala?
            - Para emergências como essa! Agora vamos ouvir essa conversa tão simpática!

            Ambos se calaram e ficaram atentos ao som que vinha dos fones.

            - Eu mandei olhar pra mim, Turner! – Dizia Edbert Shepherd. – Será que até mesmo a disciplina e a hierarquia você desaprendeu!?
            - Com todo o respeito, Agente Shepherd, meu atual supervisor é o agente Peter Burke e eu lhe trato com o respeito que merece. Ele nunca fez nenhuma reclamação. – Com toda a educação, Rachel desafiava o antigo supervisor.
            - É claro que ele não reclama. Você lhe dá resultados e isso o satisfaz. Comigo também foi assim. – Ele apenas a observou por algum tempo. – Você foi a melhor agente que eu tive. E a minha pior decepção, também.

            Doeu em Rachel ouvir isso. Ela ergueu o queixo antes de responder.

            - Eu sinto por isso, Senhor.
            - Sente? Será que sente mesmo, Rachel? – Seu olhar já não era raivoso, só magoado e saudosista. Rachel percebeu que aquela conversa iria para um tema desagradável. – Seu pai passou anos me dizendo que a ‘sua menina’ seria a agende mais fantástica já vista. E nesse tempo, você realmente era uma menina! Ele se orgulhava do caminho que você trilhou.

            Peter e Neal trocaram um olhar preocupado. Peter achava que o risco era Rachel explodir e responder de forma desaforada. Ele não queria problemas com a MI5. Neal tinha receio de que todas essas referências ao pai não lhe fizessem bem. Eles tinham uma história que ela não gostava de dividir com ninguém.

            - Peço que deixe meu pai descansar em paz, Senhor. – Ela respondeu simplesmente. Mas a voz denunciou sua emoção.

            - E ele estava certo. Você era brilhante como agente. – Shepherd ignorou o pedido de Rachel. – Sempre fria e segura no campo. Sem um resquício de medo. Forte física e emocionalmente, você sempre se arriscou mais que os outros. Era motivo de orgulho. Então seu pai se foi e você mudou. Simplesmente mudou. Eu achei que fosse apenas o luto se manifestando, afinal vocês eram muito ligados. Mas você estava diferente porque já estava envolvida com corrupção. Foi bom seu pai ter morrido antes. Ele teria vergonha de ver no que você se transformou, Turner!

            Rachel apertou o maxilar para garantir que não gritaria nem choraria. Aquele homem não sabia de nada! Nada! Precisava apenas se livrar dele e seguir com sua vida. Mas engolir aquilo calada seria impossível. Quando Peter percebeu que ela responderia, resolveu interferir antes que eles brigassem de verdade.
            - Está errado, Senhor! Eu conheci meu pai melhor do que ninguém. E eu sei que ele jamais sentiria vergonha de mim. Se meu pai estivesse vivo, estaria ao meu lado. Eu sei. E não será o senhor a julgar a relação que tivemos. Com todo o respeito, o senhor não sabe de nada! – Isso não era nada perto do que desejava falar, mas serviu como desabafo.
            - Eu não sei...eu trabalhei com seu pai, vi você criança! Então não ouse me desafiar! Ou eu garanto que te devolvo para uma cela! E esse seu acordo não...
         - Com licença, agente Edbert Shepherd, mas Rachel tem atribuições a cumprir. Por isso se pudermos seguir com nossa reunião, eu agradeceria. Nós temos muitos casos para cuidar. – Peter entrou encerrando a discussão.

            Neal olhou-a e viu a palidez estampada no rosto de sua namorada. Ela estava prestes a passar mal. Tocou-lhe o rosto sem se preocupar com quem os via.

            - Tudo bem? Quer uma água?
            - Eu...eu estou bem. Quero apenas resolver isso de uma vez. – Respondeu olhando para Peter. Era um pedido para seguirem logo ao que trouxe seu antigo chefe ao FBI.
            - Ótimo. – Peter falou e pegou o telefone. – Peça ao agente Henrique Bezhani para voltar ao meu escritório. Que venham Jones e Diana também. – Desligou o telefone. – Pode nos interar do assunto, Shepherd.

            Quando todos estavam reunidos o velho agente da MI5 começou a falar:

            - Há muitos anos nós, o FBI e outras agências mundiais tentamos agir contra um dos crimes mais cruéis que pode existir: o tráfico de crianças. É como secar gelo, quando enquadramos alguma quadrilha, nunca chegamos ao chefe e ele acaba seguindo com seus negócios em outro lugar, com outros comparsas. Agora estamos muito perto de uma quadrilha...e eu desejo o apoio de vocês. Eles agem retirando crianças de pequenos países europeus e vendendo-as para famílias americanas que não podem ter filhos, ou para fins ainda menos nobres. O caminho oposto também ocorre, em especial com filhos de imigrantes latinos que vivem ilegalmente aqui. Eles não podem recorrer a lei americana quando têm filhos levados.
           - O FBI tem inúmeras investigações nessa área...mas não a divisão de Colarinho Branco. Dificilmente esse tipo de crime vem para nós, Shepherd. – Peter afirmou.
            - Esse virá para vocês por solicitação minha. – O chefe na MI5 respondeu. – Por dois motivos. O primeiro é que você tem uma agente que só está aqui porque eu concordei com um acordo. Sei o quanto ela é boa e quero testar se essa ‘coleira chipada’ que mantêm nela a faz ficar na linha.


            - Não sou cadela pra usar coleira! – Ela explodiu com o homem. – E tenho nome!
            - Rachel, por favor... – Neal tentou acalmá-la.
            - Não! – Ela já estava naturalmente nervosa para suportar desaforos. Olhou nos olhos de Shepherd. – Nós temos um acordo que é bom para todos! Quer eu me arrisque num caso seu! Não sou imbecil! Não foi por nada que viajou um continente e veio aqui! Então vai me tratar com educação e respeito!

            O velho riu.

            - Você quer educação e respeito? – Shepherd disse com desprezo.
            - Sim. – A resposta teve o mesmo tom. – Eu quero. A pena que tenho a cumprir não lhe da o direito de me espezinhar. – Agora o olhar e o tom de voz tinham deboche. – Nós dois sabemos que recorreu ao FBI porque quer a minha ajuda. Me devolver para a prisão agora seria ruim, por tanto.

            Ele primeiro apenas a encarou. Henrique e Neal olhavam nervosos a cena. Sabiam que interferir só serviria de combustível. Depois de algum tempo calado, espaço no qual Peter não sabia se teria que devolver Rachel ao presídio por desacato a um federal, Shepherd voltou a se manifestar.

            - É bom ver que você não perdeu a impetuosidade. Mas fale comigo nesse tom novamente e seu próximo amanhecer será na pior e mais rigorosa prisão que eu puder encontrar no território europeu. – Foi um aviso e, como tal, não esperava resposta. – E não seja tão presunçosa, senhorita Turner. Não foi apenas a sua presença nessa divisão que nos trouxe ao FBI.
            - Que bom que retornamos ao que interessa. – Peter disse. Estava irritado. Tinha uma pilha de processos para cuidar e aquele homem vinha trazer problemas. – Qual a ligação desse caso com a Colarinho Branco?
            - Quando essas crianças são retiradas ainda bebês de seus pais, algumas roubadas e outras vendidas, elas recebem documentos falsos. Fornecidos pela mesma quadrilha. E falsificação de documentos é sim um crime investigado pela Colarinho Branco, certo?
            - Certo. – Mas era um elo fraco demais. Havia mais ali. – Tenho o palpite que você ainda não disse tudo.
            - Não, não disse. – O velho homem ficou ainda mais sério. – Eu investigo essa quadrilha há muitos anos...você era um bebê, Rachel, quando eu e seu pai começamos a atuar nisso. Achei que nunca chegaria ao núcleo deles. Mas agora chegamos perto.

            Rachel não gostava quando Shepherd trazia seu pai para as discussões. Por que não o deixavam descansar em paz?

            - Um homem nos procurou há cerca de 6 meses falando que sua filha havia sido roubada há mais de 4 anos e ele sabia onde ela estava, nos EUA. Mas a história não encaixava. Ele nos deu pistas muito perfeitas que levavam até a quadrilha para ser apenas uma vítima.
            - Ele havia vendido a filha. – Neal deduziu.
            - Sim. – Shepherd confirmou. – Nós investigamos e deduzimos isso. A pista era quente, a quadrilha existia, mas o pai da criança, um russo que vivia na França há muitos anos com a esposa também russa, não era inocente. Eles havia se livrado da menina e...não sei se por arrependimento ou apenas para se vingar, denunciaram o golpe.
            - Você encontrou a menina e... – Peter estava intrigado.
            - Encontrei, mas ela nunca retornou aos pais biológicos porque eles foram assassinados pouco depois de fazer a denúncia. Ela vive aqui em NY e pode ser a prova de que aquele casal falou a verdade. Se conseguirmos comprovar a adoção ilegal, existência de documentos falsificados e vinculá-los a quadrilha, desbaratamos o caso. Além de descobrir até que ponto os pais adotivos participaram da ilegalidade e puni-los também.
            - Então irão tomar a menina da família que a cria por anos e jogá-la em algum abrigo? – Rachel questionou.
            - Se eles forem criminosos, sim. Ela irá para algum abrigo. E será a prova viva do que essa quadrilha faz. – Ele tornou a dar atenção a Peter. – Será uma missão longa. Nós vamos monitorar a quadrilha na Europa e vocês o casal aqui e descobrir se os pais mantêm alguma ligação com eles daqui dos EUA. Quando tivermos tudo muito bem amarrado, estouramos o esquema.
            - Ok, acho que está bem planejado. É claro que vamos colaborar. – Foi a resposta de Peter.

            Shepherd apertou a mão do chefe de operações da Colarinho Branco e ia saindo com Henrique, que manteve-se sempre calado. Despediram-se discretamente. Da porta, Shepherd ainda deixou dois recados. O primeiro para Peter:

            - Envie para minha equipe todos os relatórios de casos com a participação de Turner...quero revisá-los e ter certeza de que sua conduta por aqui respeita o acordo.

            O segundo recado foi dito diretamente a Rachel:

            - Por agora pode não me interessar te prender, Turner. Mas isso não significa para sempre. Ande na linha.

            O trabalho na divisão de Colarinho Branco seguiu normalmente naquela tarde. Havia outros dois casos para serem investigados com prioridade. E isso manteve Neal e Rachel separados durante todo o dia. Rachel ficou com Diana investigando uma fraude na importação de livros. Neal, Peter e Jones foram até o porto onde havia uma denúncia de que  em um armazém estava sendo escondida uma carga de barras de ouro roubadas. Provavelmente seria levada para fora do país em alguma embarcação.

            O dia foi difícil para o dois, mas no fim da tarde puderam voltar juntos para casa e encontrar George. Era o tipo de rotina que fazia todo o resto valer a pena. Pretendiam uma noite calma e a sós...mas a rotina do apartamento raramente permitia isso.

            Enquanto Rachel dava banho em George e Neal começava a pensar em algo para fazerem depois do jantar, Mozz entrou. Ele tinha saído não fazia nem uma hora. E já estava de volta.

            - Eee onde está a sua ‘diaba ruiva’? – Perguntou sorridente.

            Dessa vez até Neal perdeu a voz.

            - Você chamou minha namorada de que?
            - Diaba Ruiva! Vai negar que é perfeito?
            - Não. – Depois daquela manhã no FBI, a expressão ‘diaba ruiva’ realmente fazia sentido. Mas não achava que ela iria gostar. – Porém, ainda acho que não é a melhor forma de chamar a Rachel! Ela nem está mais ruiva, Mozz.
            - É...bom...mas ela É ruiva. Na personalidade sempre será. E ‘anja ruiva’ não combina, não é? Relaxa, Neal! Sabe que gosto da Rachel. Sempre achei que ela era a parceira ideal para Neal Caffrey! Ela está com menino George?
            - Sim.
           - Ótimo...porque preciso lhe falar...da Sara. Eu investiguei! Ela realmente não vai voltar para Inglaterra! O que significa que a sua diab...a sua doce namorada ficará de olho em você.
            - Só o que me faltava.

            Quando Rachel entrava na sala, a campanhinha tocou. Mais uma visita. Essa ao menos não entrou direto. Ao abrir a porta, Neal se surpreendeu ao encarar o ex parceiro de Rachel. Henrique ali estava.

            - Boa noite. – Finalmente Neal ouviu sua voz. – Poderia falar com a Rachel?

            Sem dar tempo a Neal de responder, Rachel veio até o rapaz e o abraçou. Neal não gostou nada. Se não bastasse Henry, agora outro amiguinho. Parecia que o passado estava sempre causando crises de ciúmes entre eles. Primeiro Alex e Henry. Agora era Henrique e Sara.

            - Henrique! Que bom que apareceu. Estava tão quieto hoje...achei que iria contra sua antiga parceira. E você até já tinha meu endereço. – Rachel disse sorridente.

            - Não foi difícil descobrir. Eu aprendi com uma ótima investigadora. – Eles entraram praticamente juntos na MI5, mas Henrique nunca escondeu o orgulho de ser parceiro de alguém como Rachel. Para ele, ela era a melhor. – Fiquei calado para evita atrito com o Shepherd. Eu não queria acompanhá-lo, mas fez questão de me arrastar aqui.
            - Não queria me ver?
            - Sim. Mas não com ele ao lado. – Ele riu. Parecia mais jovem do que o Federal carrancudo que aparentou mais cedo. – Ele anda um demônio desde que você fugiu. Quando o FBI pressionou por esse seu acordo, parecia ter feito uma viagem ao inferno. Gritava que isso era debochar das leis. Que você merecia um castigo exemplar por tudo o que fez e tal.
            - Uhuuu é...e aqui está ele confiando a mim um caso. A vida dá voltas.

            Discretamente, Neal explicou para Mozz quem era Henrique e de quem eles falavam. Ele não gostou nada das novidades.

            - Agora além do FBI, sua casa ficará infestada de engravatados europeus?!?! Nós teremos que mandar dedetizar, Neal! Assim não dá! Não posso viver desse modo. E também não é saudável para o menino George!


            - Venha ver meu filho, Henrique. Ele já dormiu. – Rachel levou o amigo até o berço e Neal e Mozzie continuaram na varanda, observando de longe.


            - Tá, tá, tá...eu já entendi, Mozz. Não posso expulsar o amigo dela. – A campainha voltou a tocar. – Está pior que aeroporto isso.
            E se Neal já estava descontente, ficou ainda pior quando abriu a porta e viu  o ex chefe de Rachel e atual superior de Henrique: Shepherd.
            - Boa noite, Cafrey! – Ele entrou sem ser convidado e já saiu falando. – Sei que meu agente está aqui. Quero falar com ele. Agora. Diga para Turner que não adiante tentar camuflar nada. Eu já estou acostumado aos truques dela.

            Neal só conhecia aquele homem há poucas horas e já estava saturado dele.

            - Escuta aqui...eu respeitei o senhor lá no FBI, mas se pensa que vai entrar na minha casa para ofender a minha mulher, está bem enganado. É bom baixar o tom de voz que meu filho está dormindo. – Mozzie riu discretamente da quantidade de ‘MEU’ que Neal vinha usando nas frases. Ele estava possessivo ultimamente.
            - Sua mulher...eu não vi nenhuma aliança no dedo dela. – Mas o velho voltou a ter compostura. – Eu não vim aqui ofender ninguém. Ao contrário. Acho que me excedi e vim falar com ela.
         - Estou ouvindo. – Rachel retornou a sala carregando George e sendo seguida por Henrique. – Conheça meu menino, Shepherd.

            O velho agente sorriu para a criança.

            - É um belo garoto. – Depois tornou a ficar sério novamente. – Dá forma como concluímos hoje pareceu que desejo que você volte a cometer ilegalidades. Não é assim. Eu, pela amizade que tive com seu pai, gostaria que você trilhasse outro caminho.
            - Sim, claro. – Ela respondeu. – O caminho de uma pena perpétua a ser cumprida na pior cadeia que puder encontrar em território europeu. – Ela repetiu suas palavras de mais cedo. – Já revisou os relatórios de meus casos? Tenho com o que me preocupar?
            - Não. Nada. Atuou perfeitamente, como sempre. Eu realmente prefiro tê-la ao nosso lado do que correndo de nós...meu único receio é quanto tempo isso irá durar. Vamos embora, Henrique. Estou precisando de você! – Disse Shepherd.

            Ela não respondeu. Apenas se despediu deles. Queria jantar e depois apenas o descanso de uma cama. Neal também observou seu cansaço. Ela já tinha olheiras sob os olhos. Não demorou muito para ele expulsar Mozzi, delicadamente. Eles queriam e necessitavam de paz.

            - Venha, você precisa descansar. – Neal disse ao colocá-la na cama. – Esse final de semana a gente vai sair, espairecer. Chega dos problemas do FBI.

            Naquele mesmo momento, na casa dos Burke a noite também estava sendo longa e difícil. Elizabeth havia chego no seu limite de paciência. Eram 15 anos de casados e Peter continuava lhe negando um filho. Por anos aceitou calmamente. Agora não.Também queria um bebê para chamar de seu. Só de olhar para as bochechas rosadas de George, imaginava um filho dela e de Peter. Eles mereciam isso. E o fato de Rachel estar novamente grávida e em pânico pela reação de Peter a havia demonstrado que era hora de dar um tratamento de choque em seu marido. Ele teria de se acostumar a ter mulheres grávidas e bebês por perto.



            - Nós já conversamos sobre isso, Ell.
            - Sim, há 10 anos nós falamos sobre o assunto. Mas eu mudei, eu envelheci e hoje ter um filho se tornou muito importante pra mim. – Ela estava decidida.
            - Mais importante do que o nosso casamento? – Peter não conseguia acreditar que depois de um dia terrível, ainda teria de enfrentar com briga com Ell.
            - Tão importante quanto! Eu quero que você seja o pai do meu filho, Peter!
            - Ao menos isso me consola! – Ele respirou fundo. – Olha, querida, o dia foi péssimo...vamos deixar o assunto pra outra hora, ok?
            - Não! Não está ok! Eu já adiei por tempo demais o ‘assunto’! Eu ou o FBI importa mais na sua vida?

            Ele nuca imaginou que Elizabeth o colocaria contra parede dessa forma. Ell estava decidida demais, não ia desistir fácil. Só que ele não pretendia ceder. Mulher grávida e crianças não eram serem que combinavam com o FBI. Ela ficaria exposta. Sua esposa já havia sido sequestrada 3 vezes. Viveria em desespero se tivesse um bebê em uma situação assim. Melhor ficarem apenas com o cachorro!

            - Você. Nada é mais importante que o nosso casamento. – Foi até a cozinha e pegou um cerveja na geladeira. – E por isso não vou arriscar te perder. Seremos sempre só nós dois, Elizabeth.
            - Essa é a sua decisão final?
            - Sim, é.

            Ell não discutiu mais. Apenas subiu as escadas calada. Peter não teve nem tempo de terminar a cerveja até que ela retornou carregando uma pequena mala. A mensagem era clara. Elizabeth estava deixando-o. Após 15 anos com raríssimas brigas, sua Ell o estava abandonando e ele percebia que não sabia viver sem ela.

            - Ell...pra onde você vai?
            - Pra casa de uma amiga...não se preocupe.
            - Você está me deixando? Vai se separar de mim? – Ele estava arrasado.
           - Estou dando um tempo...não sei Peter. Não sei se estou disposta a abrir mão do meu sonho porque você não tem coragem o bastante. – Ela sabia que aquela frase iria provocá-lo. – Quando eu decidir o que farei te aviso. Até, Peter. Não esqueça de dar comida pro cachorro.

            O resultado dos problemas de cada um da equipe fez com que todos chegassem estressados para trabalhar naquela sexta-feira. Peter estava cabisbaixo e irritado. Neal nervoso e Rachel enjoada. Quando Peter os chamou na sala para pedir atualização sobre alguns casos, ela levou a mão ao rosto e empalideceu.

            - Nossa, Peter! Que perfume terrível! – Gritou esquecendo de com quem estava falando.
            - A Ell adora. – Tudo o fazia lembrar de Ell.
            - Não sei como. – Ela saiu correndo. – Droga! Vou vomitar!


            - O que ela tem...meu perfume não é tão ruim assim!
         - Nada de mais...estresse. A MI5 cavando aqui mexeu com ela. – Neal percebeu que Peter e distraído. – E você? Está estranho.
            - A Ell se separou de mim.

            Por essa Neal não esperava.

            - Ela...não sabe se está disposta a abrir mão de certas coisas para ficar comigo e eu não posso dar o que ela quer. – Ela resolveu mudar de assunto. – Vá ver se Rachel está bem e depois voltem pra gente dar andamento nos processos.

           Com essa situação entre Peter e Elizabeth, o final de semana a dois de Neal e Rachel foi cancelado. Seus amigos formavam um casal perfeito demais e estava sofrendo separados. Pretendiam animá-los. Mas ninguém sabia a razão da briga. Rachel ligou para Ell e marcou um final de semana feminino. Ela, Ell, Nicolle e Diana iriam fazer compras no shopping. Mozz, Neal e Peter iriam assistir um jogo de futebol.

            Teddy e George já tinham ganho várias roupinhas. As quatro haviam feito uma verdadeira festa em uma loja de sapatos que estava em liquidação. Os bebês dormiam tranquilamente em seus carrinhos enquanto almoçavam e, depois, elas foram comprar acessórios. Sairiam do shopping carregadas de sacolas e sorrisos. Até mesmo Ell tinha passado o dia feliz.

            Quando chegou a hora de irem embora, Rachel viu em uma vitrine um kit de recém nascido. Era lindo. Todo amarelo e com um ursinho de pelúcia. Seus olhos se encheram de lágrimas.


            - Rachel...o que há? – Diana perguntou.
            - Nada...eu só lembrei de uma coisa e enfim....deixa pra lá. – Ela disfarçou.

            Rachel olhava para a vitrine e reconhecia que havia sido péssima durante a gravidez de George. Passou os nove meses dizendo que o daria para alguém. Não se preocupou com ele, nem com seu enxoval. Não escolheu um nome. Nem desejou ir ao médico.

            Ell percebeu o que se passava.

            - Garotas! Lembrei que uma amiga está para ganhar bebê e eu não comprei o presente....Rachel, você me ajuda a escolher?
            - Claro! – Rachel respondeu agradecendo mentalmente a Ell.
            - Nós vamos pagando o estacionamento e depois nos encontramos então. – Disse Diana já saindo com Nicolle.

            Quando entraram na loja, Rachel explicou a Ell o que houve, o que sentiu.

            - Eu fui a pior grávida do mundo...eu me arrisquei sem pensar no George. – Ela começou a chorar no ombro de Ell. - O tempo todo eu fiquei escondida. Não aproveitei a gravidez...não fiz compras. Eu não escolhi nada para o meu filho. E eu nem olhava para o que minha mãe comprava.
        - Ei! Calma! Dessa vez será diferente. Vamos comprar o primeiro presente do seu filho! – Ell respondeu. – Eu também quero comprar uma roupinha de bebê.
            - Você está grávida? – Rachel se surpreendeu.
          - Não! Mas vou ficar! Com Peter querendo ou não! – Ela estava decidida. - Foi por isso que saí de casa.
            Era justamente o assunto bebês falado no apartamento de Neal naquele momento. A chance de conversar com Peter lhe pareceu boa quando marcou aquele encontro entre rapazes. Até combinou com Mozz de deixá-los sozinhos em algum momento. Mas quando Peter contou que estava separado de Ell justamente porque não aceitava a ideia dela engravidar, Neal viu que devia ficar calado. Se nem mesmo Elizabeth ter saído de casa fazia Peter desejar uma criança, a chance dele permitir Rachel grávida trabalhando no FBI era de 0%.

            - Não acha que está sendo muito rigoroso, Peter? – Ele ainda tentou argumentar.
            - Não! Não estou. Um filho nos deixa desatentos. Veja Diana, teve que se afastar porque o trabalho no FBI não condiz com uma gestante e mesmo agora, se algo com Teddy dá errado, ela sai do eixo. Vai ver o filho. É normal. Agentes não devem ter filhos, Neal.
            - George não impede eu e Rachel de trabalhar. – Disse já com poucas esperanças.
            - Porque Mozz fica de olho nele sempre que vocês precisam e a Rachel não estava na ativa quando estava grávida. Passou o tempo todo escondida. Lembra o que você sentiu naquela tarde em que ela invadiu seu antigo apartamento e levou um tiro? Você ficou desesperado, Neal. Eu me sentiria responsável por qualquer coisa que acontecesse a Ell. Não! Nem pensar! Ela perceberá que tenho razão.

           
            Carregando mais aqueles pacotes, Ell e Rachel se juntaram a Diana e Nicolle novamente. Mas já estava na hora de irem para suas casas. Ell levou Rachel em casa e a ajudou a subir com George adormecido e todas as sacolas. Os três rapazes ainda estavam bebendo e conversando. 


Foi constrangedor para Ell encontrar Peter. Queria que ele simplesmente falasse que havia mudado de ideia.
            - Ell, que bom te ver. – Peter foi cumprimentá-la enquanto Rachel equilibrava uma pilha de caixas e sacolas. – Vejo que fizeram muitas compras.

            Num descuido Rachel deixou cair da sacola uma minúscula meia branca de recém nascido. Tinha comprado a peça por impulso e agora estava em apuros. Era obvio até para Peter que aquilo não era para George.

            - O que isso? – Ele olhou para as duas confuso. – É muito pequeno.

            Neal viu que Peter iria juntar suas perguntas sobre bebês e aquela meia e, em poucos segundos, iria chegar a conclusão que expulsaria Rachel da Colarinho Branco. Elizabeth também percebeu. E num lance arriscado, ajudou seus amigos...e ainda provocou Peter.

            - É meu! Essa sacola é minha. Eu te dei por engano, Rachel. Me desculpe.

            Todos na sala viram Peter empalidecer. Acharam que ele ia desmaiar ou ter um enfarto ali mesmo.

            - Você...Ell...vo...vo...você comprando...isso... – Ele não conseguir formular a frase.
            - Por ‘isso’ você quer dizer roupinhas de bebê. Sim, Peter Burke! Eu comprei. Algum problema?
            - Ell...você está grávida?

            Elizabeth até pensou em fazê-lo sofrer um pouco mais, mas decidiu que preferia manter o coração de Burke funcionando pelos próximos anos.

            - Não. Ainda não. Mas pretendo ficar logo. Então já adiantei umas comprinhas.

            Agora a cor voltava ao rosto dele. Vermelho de raiva.

            - Vai ficar?!?!? E eu posso saber como? – Afinal Ell havia saído de casa.
            - Muito simples, Peter Burke! Se você não tomar uma atitude, encontrarei alguém mais interessado! – Elizabeth pegou sua bolsa e saiu apenas com um aceno aos donos da casa. – Passe bem ‘Agente Burke’!

Nenhum comentário:

Postar um comentário