segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 29






            Com a desculpa de que precisavam ensaiar uma nova coreografia e aproveitando-se do fato de que Ruan Rodrigues tinha muitos compromissos profissionais, coisas que ele não explicava, Peter, Rachel e Neal tiveram como conversar.


            O único problema foi que Ruan questionou qual dança iriam ensaiar. Peter tinha que convencer como coreógrafo e o único ritmo que sabia dançar era tango. Então essa foi a resposta mais óbvia.







            Não teria gerado nenhum problema, se Rodrigues não tivesse feito um aviso.


            - Maravilha! Adoro tango! Essa noite venho ver vocês passarem a coreografia.

            - Mas...mal começamos, querido. Ainda não estará belo. Deixe para mais adiante. – Rachel tentou ganhar mais tempo.

            - Não, Rebecca. Quero acompanhar todo o seu trabalho. Além disso, você e Nick são parceiros antigos. Tenho certeza de que essa noite já terão algo satisfatório para apresentar. – Ele beijou-a prensando-a conta uma parede e saiu.



            Sozinhos e já sabendo dos detalhes da morte de Gabriella, Rachel percebeu que teria de adaptar o plano e correr ainda mais. O homem não era apenas bipolar. Era um assassino passional. Isso os diferenciava muito. Em todas as vezes que matou, ela agiu friamente. Tinha um objetivo claro. Ruan não. Era óbvio que ele ainda nutria a paixão que sentiu pela falecida. Matou sem pensar...o que significava que mesmo desejando-a, num momento de raiva poderia facilmente tentar repetir o crime. Era bom ficar atenta e manter as mãos de Ruan Rodrigues longe de seu pescoço.


            A manhã que se apresentou como a chance de explorar a casa tendo somente de se desviar de poucos empregados, agora os obrigava a ensaiar tango.


            - Eu não faço ideia de como dançar tango! – Neal avisou irritado. Estava acostumado a saber tudo de que o FBI precisava e agora, justo nesse caso, lhe faltava um talento.

            - Peter... -  Rachel assumia o comando friamente. – Você sabe dançar tango então fique aqui com Neal e o ensine os passos básicos, a postura, o início de alguma pegada. Vamos montar algo simples...com alguns floreios, mas sem grande dificuldade. Enquanto isso eu vou explorar a casa.

            - Ok, mas tome cuidado. Não tem câmeras, mas os empregados devem estar com os olhos atentos. – Peter pediu.

            - Precisam ser instaladas microcâmeras no quarto e no escritório dele, chefe. – Diana lembrou.

            - Diana está pedindo para você pegar equipamento de vídeo e esconder no escritório dele...e no quarto onde ficará com Rodrigues. Precisamos poder acompanhar o que se passará nesses lugares. – Peter disse. - A noite ele pode ficar violento ou perigoso e se você precisar de ajuda nós estaremos vendo. – Mesmo sem nenhuma simpatia por ela, Peter se preocupava com a segurança de Rachel. – Se precisar abortar a missão, nós saberemos.

            - Nós vamos encontrar ainda hoje os papéis e isso não será necessário. – Afirmou Neal. Ele queria encerrar o caso antes da ‘noite’.

            - Nem pensem em abortar missão! Eu não cheguei aqui para desistir assim! Só saio dessa casa levando os títulos. – Rachel estava decidida.

           

            Enquanto Peter e Neal ficaram ensaiando o tango, Rachel caminhou pela casa. Pelo microfone, todos ouviam o que ela fazia. Uma única empregada, que se identificou como Clare, aproximou-se muito simpática e perguntou se precisava de algo.


            - Não, estou apenas encantada com tantas obras de arte. A casa lembra um museu. – Disse.

            - Sim, Sr. Rodrigues gosta de arte e acumula coisas da Sra. Gabriella.

            - Deve dar muito trabalho manter arrumado. A equipe de empregados deve ser imensa. – Ela jogou verde para tentar descobrir se haveriam muitos olhos sobre eles.

            - Não. O patrão não gosta de muita gente na casa. Apenas eu e o motorista moramos aqui. O jardineiro e uma equipe de faxina vem semanalmente. Os seguranças externos não entram na casa.

            - Interessante. – E perfeito. Ela poderia facilmente desviar de Clare e o motorista tinha saído com Rodrigues. – Vou para o meu quarto...depois termino de olhar as outras obras de arte da casa...deve ter coisas lindas em vários cômodos, não?

            - Sim, muitas. O Sr. Rodrigues disse que a senhorita tem total liberdade na casa. Aproveite sua estadia. Verá que algumas portas ficam trancadas...são locais que somente ele tem acesso. Para todo o mais a senhorita tem autorização para entrar.

            - Obrigada. – Respondeu Rachel subindo as escadas. Neal teria algumas portas para arrombar.



            Na sala de ensaio, Neal tentava se concentrar nos passos de dança enquanto ouvia Rachel. Tango era uma dança muito mais difícil que bolero e eles não tinham muito tempo. Esforçou-se ao máximo.


            - O que queria que eu fizesse, Neal? É a única coisa que sei dançar. – Explicou Peter.

            - Mas eu não sei!  E sou eu quem terá de dançar. – Neal replicou.

            - Então agradeça que eu estou aqui para te ensinar e não reclame! Você não tem que ser perfeito. Não é uma apresentação. Ele só que ver uma passagem de ensaio.

            Eles ensaiaram por bastante tempo.

            - Vamos Neal. Mais uma vez! Você pegou bem a dança.








                Depois de colocar a microcâmera presa a um enfeite na mesa de cabeceira do quarto, e vistoriar o lugar, Rachel concluiu que ali não havia nada de importante. Arrumou algumas coisas de sua mala, em especial o leve calmante que tinha trazido. Não poderia lhe dar mais do remédio da outra noite, afinal ele apagaria completamente e perceberia que vinha sendo dopado. Mas...um calmante leve iria ‘ajudá-lo’ a sentir sono.


            Só que teria de encontrar um meio dele aceitar ir dormir sem sexo...ou, se não encontra-se outra forma, seria obrigada a transar com ele, sabendo que Neal assistia. Claro que seria difícil, mas pela chance de alongar o acordo, de ficar fora da prisão com Neal e seu filho...faria. Valeria a pena. Só que não sabia como Neal encararia isso.


            Resolveu lidar com um problema de cada vez e foi em direção ao escritório de Ruan. Encontrou facilmente e viu que não estava chaveado. Revisou os papéis, algumas gavetas, procurou por livros falsos que escondessem algo. Nada. Atrás de um quadro descobriu um cofre. Nada poderia ser mais óbvio. Duvidava que encontrassem algo realmente relevante ali, mas Neal e Peter teriam que abrir e conferir.


            Eram duas portas trancadas. Estavam frente a frente, no lado oeste da casa. A desconfiança de Rachel ficou maior quando percebeu que a fechadura não era reforçada, era simples, mas ao borrifar seu perfume perto, foi possível ver o alarme em laser. Era ali, só podia ser.


            Voltou a sala de ensaio e gostou de ver como Neal tinha evoluído na dança. Iria gostar de dançar tango com ele. Era um homem de ombros largos, tinha uma bela postura. Combinava com o bailado marcado do tango. Um dia ainda iriam dançar de verdade, sem missões ou planos malucos.


            Planejaram o que iam fazer. Ela ia chamar Ruan para almoçar fora enquanto eles iam vistoriar o lugar. As duas portas com alarme, em especial. Tentar entrar pela janela era loucura. Podiam chamar a atenção dos seguranças que cercavam a casa. Teria que ser pela porta mesmo, abrindo a fechadura com muito cuidado para não disparar o alarme.


            - Eu vou pegar os papéis, onde estiverem. Quando voltarem do almoço, os terei e ele será preso. Fim do caso. – Neal estava decidido.





            Rachel não podia ter essa certeza toda. Por isso já tinha que ir armando sua desculpa para a noite. Quando Ruan chegou para buscá-la para o almoço, ela fez uma cara de dor. Quando ele perguntou por que estava assim, lhe respondeu:


            - Estou com cólicas...problemas femininos. – Beijou-o suavemente. – Mas não se preocupe. Já estou medicada.

            - Quer ficar em casa? Repousar? – Ele realmente se preocupou com ela.

            - Não, querido. – Precisava deixar a casa livre para Neal e Peter. – Quero ficar com você.

            Foram almoçar e ela seguia na corda bamba. Tinha que seduzir, mantê-lo ligado a ela, mas sem deixá-lo excitado. Sabia que ele tinha compromissos para a tarde e iria usar isso como arma.

            - Estou fechando um negócio muito importante. Em dois dias você será a rainha de um rei ainda mais poderoso. – Naquele momento Rachel e o FBI souberam que ele estava negociando os títulos. Não tinham muito tempo.

            - E por quê? Que negócio é esse? Fiquei curiosa.

            - Minha bela...não pense nisso. – Ele pediu a carta de vinhos. – Essa sua cabecinha ruiva não precisa se preocupar com mais nada a não ser passos e figurinos de dança. E em me agradar, é claro.

            - Claro. – Ela respondeu acariciando-lhe a mão.

Na casa, Neal começou pelo cofre do escritório. Era bom nisso, podia arrombar com facilidade. Depois, iram aos quartos trancados. Foi simples. Peter ficou controlando o lugar onde a empregada estava, mantendo-a longe daquele cômodo enquanto ele procurou pelo quadro indicado por Rachel.





            Depois precisou encontrar a combinação. Algo simples, já que tinha o equipamento correto.



            Não demorou muito, obteve a senha e o cofre se abriu.



            Havia muita coisa lá. Não encontrou os títulos, porém muita coisa comprometedora. Em uma caixa, havia fotos de várias mulheres, todas sempre amarradas. Fetiche? Até aí, nada de errado. Ele que amarrasse quem desejasse, menos Rachel. Em algumas imagens elas aparentavam estar gostando da brincadeira. Em outras, tinham um olhar assustado. Ele não aparecia em nenhuma daquelas fotos. Havia alguns DVDs, mas ele não tinha tempo de olhar agora. Continuou verificando o conteúdo do cofre. Algumas joias. Dinheiro em várias moedas. Duas pistolas. Munição.

            O assustador, porém, estava em outra caixa. Eram fotos de uma única mulher, a mesma dos painéis na sala dos tecidos. Gabriella. Ela estava machucada em várias. Amarrada. Tinha pânico no olhar. Aquela mulher havia sido torturada durante muito tempo. E a empregada que denunciou Rodrigues sempre esteve certa. Nas últimas imagens ela estava desacordada sobre a cama.

            Neal tinha certeza de que estava olhando para Gabriella já morta. Ruan teve o sangue frio de matar e registrar tudo.

            - Como estão as coisas no almoço? – Neal perguntou para Diana pelo comunicador.
            - Normal. Já estão comendo. E ele vai fechar um negócio depois. Temos pouco tempo, Neal. – Ela respondeu.
            - Como ele está com ela? Não dá nenhum sinal de agressividade? Vocês não tem ideia do maníaco que ele é! Ruan Rodrigues é doente! – Podia surtar a qualquer momento. Quando se colocaram naquela situação, eles não imaginavam isso.
            - Concentre-se, Neal. – Peter lembrou. – É assim que vamos acabar com o caso mais rápido.
            - Ele a matou mesmo. E fez coisas bem ruins antes...tem provas aqui, Peter. – Neal não tinha a frieza habitual.

            Peter achava que agora não podiam sair do objetivo. Só assim conseguiriam terminar bem o caso.

            - Se os títulos não estão aí, Neal, deixe tudo como estava e siga para a primeira porta trancada. Não perca tempo! – Era a ordem de um superior.

            Quando o almoço já estava na sobremesa Neal conseguiu abrir a porta sem disparar o alarme. Clare estava ocupada no andar de baixo, achando que eles descansavam nos quartos. Por uma câmera que instalaram, Jones cuidava a escada. Quando se aproximasse do segundo andar eles saberiam.

            Só que entrar naquele quarto não adiantou muita coisa. Neal e Peter só viram mais um ‘altar’ bizarro em devoção a mulher que Ruan amou e matou.

            - Mas por que um alarme na porta? Nada aqui é crime...loucura sim, mas crime? – Peter estranhou.
            - Ele é um louco. Loucos não seguem a lógica, Peter. Ele não quer dividi-la com ninguém nem depois de morta. Se você visse o que eu vi...
            - Concentre-se, Caffrey! – Ele repetiu.
            - Como?! Não consigo! É um lunático! E está com ela! – Não tinha como simplesmente seguir trabalhando no caso, não conseguia ser frio.
            - Rapazes! – Diana chamou. – Eles estão no carro indo para casa. Saiam daí agora.

            Sem alternativa, a outra porta teve que ficar para depois. Ruan Rodrigues estava ansioso, disse que tinha negócios a fazer, mas não entrou no quarto com alarme. Sinal que ainda não ia se desfazer dos papéis. Ainda teriam chance. Ele recomendou que Rebecca descansa-se durante a tarde, para passar as cólicas, e tornou a sair.

            Neal queria invadir o cômodo naquele momento. Rachel os convenceu que não. Se não estivesse lá, precisariam manter o disfarce até o outro dia para revistar o resto da casa. E, para isso, teriam que apresentar uma coreografia de tango. Melhor ensaiar. A calma com que ela encarava a possibilidade de passar uma noite na mesma cama que Rodrigues enfurecia Neal.

            - Você ouviu o que eu disse? – Ele gritou. – O cara assassinou a mulher e guarda fotos dela morta no cofre! Ele tem um monte de imagens de outras mulheres amarradas!
            - Mas não vai me amarrar! Não vou deixar! – Ela respondeu.
            - Você não está pensando. Está se arriscando demais. – Como ela não via isso?
            - É a minha única chance e eu não vou perder, Neal. Agora venha ensaiar essa porcaria de tango porque não vai ser uma dança que vai entregar todo o nosso plano! – Ela encerrou o assunto.

            E não foi. Naquela noite, após jantarem juntos, Nick e Rebecca ‘ensaiaram’ na frente de Ruan. E ele gostou do que viu.



            Neal mostrou-se alegre e festivo após o ensaio. Tudo uma farsa. Por dentro, tinha ódio de Rodrigues. Se soubesse que ia terminar assim, não teria incentivado Peter a trazer Rachel ao FBI. O risco estava alto demais. Peter também tentou puxar conversa, fazê-lo beber para falar mais dos negócios. Já Rachel tinha que manter o teatro que iniciou no almoço. Falou que só dançou para satisfazê-lo, já que as cólicas estavam insuportáveis.

            Foi impossível segurar Rachel e Rodrigues até muito tarde. Mal passava das 11, estavam todos em seus quartos. Neal e Peter apreensivos acompanhando por um tablet o que se passava no quarto de Rachel e Ruan.

            - Eu vou tomar uma chuveirada...talvez alivie a dor. – Ela disse indo para a suíte e fechando a porta.
            - Coloque uma camisola bem sensual...a sua primeira noite aqui merece. – Ele gritou em resposta.
           - Ou querido...acho que eu estou meio imprestável para sensualidades hoje...me desculpe por isso. 
Nossa primeira noite aqui no seu quarto. Eu queria que ela fosse perfeita. – Ela lamentou, ainda do banheiro enquanto tirava a roupa.
            - Sempre podemos inovar, querida Rebecca. – Foi a resposta um tanto dúbia.

            Neal e Peter não estavam gostando do rumo que a noite tomou. Claro que Neal se preocupava com ela, mesmo que não tivessem um relacionamento, mesmo que fossem apenas colegas de trabalho seria assim. Se as posições estivessem trocadas e fosse Diana na van e Rachel no quarto, ainda assim ele seria da opinião de que o melhor era parar por ali. Mas era Rachel lá dentro e isso acrescentava ciúme à equação. Peter não gostava de nada em Rachel. Só via falsidade em cada palavra que ela pronunciava. O sucesso dela em enrolar alguém como Ruan só provava o quanto era perigosa. Mesmo assim, reconhecia a importância e dedicação dela para aquela missão. E se preocupava com as reações de Neal quanto ao que ocorreria naquela noite. Peter não tinha dúvidas de que para manter a farsa Rachel não hesitaria em transar com Rodrigues.

            Depois que ligou o chuveiro, Rachel tomou um banho rápido. Não queria demorar e dar a Ruan a ideia de que o queria ali. Não passou de uma chuveirada rápida. Chegou ao quarto vestindo uma camisola simples, nem fechada demais nem sensual. Algo comum. O encontrou nu e quando ele se aproximou excitado achou que a história da cólica não iria colar e ele ia querer sexo ali mesmo. Mas ele simplesmente lhe mordeu o pescoço e disse para esperar na cama.

            Sem muito mais o que fazer, ela pegou o copo d’água que trouxe mais cedo e colocou gotas do calmante. Em algum momento teria que fazê-lo beber. Ficou deitada tranquilamente, assistindo televisão, sabendo que era observada pelo FBI.

            Quando saiu do banheiro, Ruan vestia apenas a calça de um pijama e trazia um vidro com ele. Na hora ela imaginou o que ele queria e, pior, não teria como negar.

            - Tira a camisola. – Disse naquele tom que não era bem um pedido. – Deita na cama de bruços. Vou fazer uma massagem. Vai se sentir melhor.
            - Obrigada, querido. – O que podia fazer quando seu suposto amante faz uma oferta tão carinhosa quando você está com dores pré menstruais?

            Sem alternativa, ficou nua na sua frente, e da microcâmera, e se deitou como ele pediu. Por alguns minutos Ruan realmente apenas massageou-lhe a parte baixa das costas com um óleo perfumado. Isso não a impediu de ficar apreensiva. Não exatamente com o toque, mas com a certeza de que Neal estava vendo aquela cena e se descontrolando.

            - Está tensa, querida. Precisa relaxar os músculos. – Ele lhe beijou a Lina da coluna. – Vire de frente.
            - Já basta...sei que vou ficar bem agora, querido...obri...
            - Eu mandei virar de frente, Rebecca. – Ele disse simplesmente. – É para o seu bem.
            - Claro. – Melhor não irritá-lo.

            Ele lhe massageava a barriga agora, delicadamente. E ela só encarava a câmera posta no criado mudo. Pensou em tirá-la de lá para acabar com aquela tortura. Mas Neal não a perdoaria por cortar o contato que tinham.

            - Melhor? – Ele disse ao sair da cama e levar o óleo de volta ao banheiro.
            - Sim, obrigada. – Saiu da cama e pegou a camisola para vestir.
            - Fique sem ela. – Era mais uma ordem. - Quero sentir você, Rebecca.

            Sem alternativa, deitou-se e se enrolou no lençol. Não parava de pensar no que fazer. O relógio marcava 11h50min. Ele tinha negócios a fazer no dia seguinte. Certamente queria dormir. Mas seu instinto lhe dizia que a madrugada seria longa.

            Ruan voltou do banheiro e ela sentiu quando ele se deitou e a puxou para seus braços. Pensou que se fazer de frágil era sua melhor alternativa. Deu-lhe um leve beijo nos lábios e deitou a cabeça em seu peito. Fechou os olhos num claro recado de que desejava dormir.

            Não adiantou. Sentiu quando ele desceu o lençol e começou a lhe tocar os seios. Inferno! Será que não entendia o recado!?!?

            - Não...querido. Desculpe, mas hoje não estou em condições para sexo. – Beijou-o novamente. – Estou dodói. Pode só cuidar de mim, não pode? É só hoje.

            Seus olhos ficaram mais escuros. Ruan estava com raiva. Ia explodir a qualquer momento. Ele se aproximou ainda mais dela, deixando-a sentir a ereção. 

            - E você? Não vai cuidar de mim? Vai me deixar dormir assim? – Ele queria sexo. Não ia aceitar menos. – Preciso de você, Rebecca.

            Em um raro momento indecisão, Rachel não tinha ideia do que fazer. Conseguia transar com ele, podia aguentar isso pela chance de não voltar para a prisão. Mas não podia transar com Ruan sabendo que Neal assistia tudo. Não conseguiria fazer isso com ele.

            - Por favor, Ruan...eu não estou em condições. Estou com cólica! Pare! Me deixe dormir! Amanhã eu estarei melhor.

            No quarto do outro lado da cada, Neal estava decidido a ir lá. Era claro demais que isso não ia terminar bem. As opções eram apenas duas: ela irritá-lo tanto que ele ficaria agressivo até realmente machucá-la ou Rachel ceder por obrigação e ele se satisfazer nela.



 
            - Isso já foi longe demais, Peter! O que nós vamos esperar acontecer para acabar com tudo?

            - Ela sabe o que faz, Neal. – Peter tinha certeza de que, se quisesse, Rachel colocaria fim no problema. Era esperta. - Ela já provou que sabe enrolar ele.

            - Tudo tem limite! – Droga! Será que ninguém mais via isso?!

            - Não saia desse quarto, Neal. – Era uma ordem. – Não se esqueça de que são esses títulos que impedem Rachel de voltar para a cadeia. Pense antes de acabar com o caso.

           

            Por enquanto ele ficou. Mas Peter sabia que se Rachel não segurasse Ruan, logo a missão iria pelos ares. Nada faria Neal ficar ali.

            Do outro lado da casa, a discussão sexual continuava.



            - Você não quer transar...ok, Rebecca...mas não posso ficar assim, nesse estado. – Ele disse.

            - Vá tomar um banho frio. É tarde Ruan... – Sua paciência estava no limite.

            - Não...a gente pode resolver de outro jeito. Você pode usar a sua boquinha e resolver o meu problema. – Não chegava a ser o mesmo tom impositivo de antes, mas certamente não era um convite.


            Com isso Rachel chegou no seu limite. Era tudo ou nada! Ergueu-se na cama feito uma gata e, levando o lençol consigo, mostrou as garras.


            - Quer que eu resolva o seu probleminha é? Com a boca? Pois resolva sozinho! – Gritou.


            O clima na equipe do FBI ficou apreensivo. Ninguém sabia como ele ia reagir.


            - Ei! Rebecca! Eu... – Ele se espantou com a explosão dela.

            - Ei nada! Eu estou com dor e você não consegue pensar em outra coisa que não a própria ereção! Não! Ouviu bem? Não! Me nego a me sujeitar a essa humilhação! Quando me convidou para sua casa, não me disse que eu pagava a hospedagem te chupando!


            Quem ouvisse a cena, acharia que ela era realmente uma mulher ofendida.


            Ruan acreditou.


            - Desculpe, querida. Não quis te ofender assim. – A bipolaridade atacava novamente. – Eu não quis te ofender...é claro que não precisa fazer nada que não quiser. Era só um convite...


            ‘Assunto resolvido’, pensou Peter.


            - Eu disse que ela ia enrolar ele? – Disse para Neal. – Pronto. Ele vai se acomodar agora.

            - Você sabe muito bem como isso podia ter terminado! – Para Neal o assunto não estava resolvido. – Defende tanto os ‘métodos do FBI’...abuso sexual agora é permitido.

            - Eu não vou levar a sério o que diz. Está nervoso, Neal. Está agindo como se ela fosse uma mocinha inofensiva. Não é.


            Continuaram acompanhando tudo.


            - Eu senti bem o convite, Ruan! – Ela continuava irritada. – Quer saber? Me deixe dormir. Apenas isso.

            - Não fique assim...eu devia saber que você está nervosa. Nessa fase do mês toda mulher fica. Não devia ter te pressionado assim. Me desculpe.

            - Ok...eu estou nervosa mesmo. – Era hora de acalmar os ânimos. – Só vamos dormir. Sim?



            Com isso, ganharam algum tempo de tranquilidade. Rachel ficou deitada, de olhos fechados, fingindo dormir. Ele se aconchegou nela. Não falou mais nada. Só cheirava seus cabelos. Neal e Peter observavam já imaginando que Rachel sairia do quarto assim que ele dormisse. Ficaram ali observando. Por garantia ela esperou por 20 minutos. Até que teve certeza que Ruan tinha a respiração calma, ritmada. 


            Levantou-se da cama, vestiu a camisola e saiu do quarto agradecendo a porta silenciosa. Caminhou até o quarto onde seus parceiros estavam.


            - Tudo bem? – Neal perguntou abraçando-a assim que entrou.

            - Sim. – Ela beijou-o no rosto. – Tudo sob controle.


            Ela via a apreensão dele.


            - Me escutem vocês dois: aconteça o que acontecer, não vão lá. Não abortem a missão. – Era um aviso aos dois, mas em especial para Neal.


            Até mesmo para Peter, essa insistência de Rachel era assustadora. Qualquer mulher sensata diria para ele que desejava parar. Ela iria no limite.


            - Vamos tentar entrar no quarto agora? Pegar esses papéis e acabar com isso logo. – Dessa vez foi Peter a achar que era o melhor. Acabar logo com tudo.


            - CHEFE! – Diana interrompeu. – Rachel tem que voltar. O cara tá acordando.

INFERNO!

            - Rodrigues percebeu sua saída. – Peter deu o recado. – Corre! Vai lá e segura ele.

            - Não! – Neal interferiu. – Ele vai estar...

            - Eu consigo. – Disse ela já saindo.



            Mas no fundo ela sabia que a situação tinha saído do seu controle novamente. Correu em direção ao quarto pensando numa desculpa. Não teve tempo de falar uma palavra. Encontrou-o no corredor, a expressão confusa, o rosto avermelhado.


            - Querido! Saí por um m... – Ela começou a falar e não terminou.

            - Passou a dor? Para me agradar dói demais, mas assim que eu durmo você sai! Porque Rebecca? Ia me abandonar? Ia embora no meio da noite?


            Ruan lhe agarrou um dos braços, apertando. Com o outro, lhe deu bofetada no rosto.


            - Há?!?! – Ela gritou ao sentir o rosto queimar. – Não...eu só sai um instante. Ia na cozinha.

            - Mentirosa! – Ele a puxou para dentro do quarto. Arrastou pelo braço.


            Rachel podia lutar com ele. Até derrubá-lo, se desejasse. Mas isso seria entregar o disfarce. Então aguentou. Apanharia sem se defender. Era o preço a pagar.


            Ao entrar no quarto, Ruan jogou Rachel sobre a cama e ela se chocou contra a cabeceira. Ele deu-lhe mais um tapa no rosto.


            - Pare! Está me machucando! Pare, Ruan! – Era o que podia fazer, implorar.

            - Não vai sair daqui! – Ele segurou seus dois antebraços e a sacudiu. – Não vai!

            - Eu não quero! Eu só...


            Mais um tapa explodiu em sua face.


            - Não minta pra mim! – Ele estava fora de si e Rachel optou por se deixar chorar. Sua última chance era comovê-lo.



            Naquele momento, Peter tentava segurar Neal. Impedi-lo de fazer uma loucura indo confrontar Ruan. Se ele aparecesse lá agora, os dois começariam a brigar e não terminaria bem.


            - Me solta! Ele vai matar ela!

            - Não, Neal. Não vai! Pense! Sabe que se ela desejar derruba ele, é só querer! – Neal não queria ver. Rachel não corria perigo de verdade. – Ela está jogando com ele.

            - Ela está apanhando dele! – Os títulos que fossem para o inferno.

            - Ela está apanhando para manter-se no plano. Há minutos, aqui mesmo, ela lhe pediu para não ir lá!

           

            Neal não acreditava no que estava ouvindo. Peter ia deixar aquilo chegar até onde exatamente? Um estupro? Um assassinato? Em função dos malditos papéis, iam ficar ali, vendo um crime ocorrer?


            - Ele está espancando ela! Já não é um crime bom o bastante para a polícia invadir essa casa e pegá-lo?

            - Não temos certeza de onde os papéis estão! Eu não posso parar! – Precisava que Neal colaborasse. – E ela sabe se cuidar! Ela é treinada!


            Não era só Neal que estava nervoso. Peter também estava no limite no estresse.


            - Não saia desse quarto, Neal Caffrey. Ela vai enrolar o Rodrigues mais uma vez e amanhã nós vamos pegar os papéis e prendê-lo. Fim! E você a terá no FBI, fora da cadeia, como deseja. – Disse para lembrá-lo como aquilo era importante.

            - Ela vai enrolar ele como, exatamente? Apanhando até ele extravasar toda a raiva? Permitindo que ele a obrigue a transar?

            - Não seria a primeira vez que ela faz sexo em serviço! – Peter gritou em resposta.


            E sentiu que havia ultrapassado qualquer limite quando o punho de Neal o esmurrou.


           Neal não ficou ali nem mais um minuto. Correu para o outro lado da casa até chegar a porta onde os dois estavam. Em seu ouvido, o discreto fone lhe permitia ouvir o que ocorria lá dentro.


            Não havia mais som de Ruan lhe machucando, porém continuavam discutindo. Ela chorava.


            Neal forçou a maçaneta da porta. Trancada.



            - Porque tinha que sair do quarto, Rebecca? Por que me força a te machucar? – Ruan se mostrava cada vez mais louco. Ia da raiva à culpa em segundos.

            - Eu..não ia sair. – Ela só podia tentar deixá-lo mais culpado. – E você me feriu assim.

            - Não devia ter saído sem me avisar! Não devia...me obedeça...me obedeça e isso nunca mais ocorrerá.


            Ruan e Rachel  ouviram alguém esmurrando a porta. 


            Rachel sabia exatamente quem era.


            Ruan voltou a sentir a raiva crescer. Quem vinha se intrometer na sua ‘conversa’ com Rebecca? Quando abriu, viu Nick...o ‘partner’ dela. A roupa que mais cedo era alinhada agora estava amarrotada. 


            Percebeu quando Nick olhou o quarto e sentiu percebeu a raiva dele quando viu Rebecca. Nick tinha ódio nos olhos.


            - Eu o convidei para minha casa, Nick. Não para meu quarto. Saia daqui agora. – Ruan gritou.


            Neal o segurou pela camisa. Seu desejo era esmurrá-lo com toda a força.


            - Eu ouvi os gritos dela! – Neal disse sem saber se valeria a pena continuar com algo do plano. Olhava para Rachel e a via o fuzilar com o olhar, mas também percebia seu rosto ferido. O que fazer?

            - Não se meta nos nossos problemas. – Gritou Ruan.

            - Não a machuque! – Neal respondeu. Não podia simplesmente dar as costas.



            Rachel saiu da cama e interferiu. Separou-os. Pegou nas mãos de Neal e olhando em seus olhos disse:


            - Acalme-se, Nick. Sei que se preocupa comigo. Mas está tudo bem. Foi um desentendimento de casal...já passou. Eu vou colocar gelo em meu rosto...e amanhã estará tudo bem. Nós ensaiaremos como sempre.

            - Tem certeza? – Como ela podia conseguir manter o plano depois disso?

            - Tenho, querido. Está tudo bem! Amanhã eu estarei pronta para dançar. Agora vá dormir, Nick! Vá!

            - Isso, Nick. Vá! – Repetiu Ruan.



            Neal voltou ao quarto ainda ouvindo-os conversar. Rodrigues realmente parecia bem mais calmo.


            - Eu vou buscar gelo para colocar em seu rosto. – Ele parecia arrependido. – Vou cuidar de você.


            Quando ele saiu do quarto, Rachel olhou no espelho e ajeitou os cabelos. Estava fervendo de ódio. Ao menos tinha conseguido segurar Neal. Viu as marcas em seu rosto. Quando pudesse tirar o disfarce, ia se vingar daquilo.


            - Está tudo bem. – Falou alto para o FBI, e Neal, ouvir. – E eu garanto que ele vai pagar caro por cada bofetada. A vai!

           

            Era hora de, agora com calma, Neal e Peter se encararem.


            - Não precisava ter ido lá, Neal. O que se passou naquele quarto foi escolha da Rachel. – Disse Peter, mesmo internamente reconhecendo que deveria ter interferido.

            - Se fosse Diana naquele quarto você já tinha parado! – Era uma afirmação que não tinha contestação. Peter jamais havia exposto outro agente daquela forma. Só o fez porque não se importava com Rachel.


            Diana se manifestou.


            - Eu já teria parado Neal. Rachel brinca com fogo. – Ela disse.

            - Eu sei. – Neal respondeu. – Eu devia ter parado ela.

           

            Passava da 2 horas da manhã e eles ainda viam Rodrigues colocar gelo no rosto dela, nos ferimentos que ele mesmo provocou. Ruan acariciava-lhe os cabelos e sussurrava palavras doces. Consolava-a, mas falava como se ela fosse a culpada do descontrole.


            - Nunca me assuste assim...tenho medo de te perder. – Ele dizia.

            - Meu rosto vai ficar marcado. – Ela choramingava para mantê-lo assim, culpado.

            - Não. Acalme-se – Ele viu o copo de água ao lado da cama. – Bebe a água, meu amor. Você precisa se acalmar e dormir.


            Ela sabia que na água havia um calmante. Pegou o copo, fez que bebeu um gole e, sorrindo, tirou a bolsa de gelo de suas mãos e deu-lhe o copo.


            - Nós dois precisamos dormir...e deixar essa noite no passado. Bebe também um pouco d’água. E vamos descansar, sim? – Lhe deu seu sorriso mais doce e frágil. – Bebe, sim?


            Ele fez o que ela pedia. Terminou com o copo d’água e deitou-se ao seu lado. Sabendo que a equipe do FBI ia se revezar observando tudo, Rachel tentou dormir.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário