domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 28







            Neal acordou da forma como sempre quis. Abriu os olhos e a viu ali, ainda dormindo, calma e descansada. Na pele branca tinha algumas marcas deixadas por ele. Provavelmente ela não ia gostar nada quando visse... mas durante a noite não reclamou.

            Olhou para o relógio: 8h45min. Eles não dormiram quase nada. Mas era melhor levantar e se arrumar antes que Ell o chamasse para ficar com George. Surpreendeu-se por não terem chamado ele e Rachel nenhuma vez durante a madrugada. Tinha que agradecer Ell por cuidar de seu filho e...segurar Peter.

            Quando ia levantar da cama, Rachel abriu os olhos. Estava sorrindo. Ele resolveu ficar mais um pouco.



            - Quer dizer que não era sonho? – Disse-lhe. – Bom dia, Neal.
            - Bom dia. – Ele a beijou. – Dormiu bem?

            Rachel olhou para o relógio.

            - Pouco...mas maravilhosamente bem. – Foi a resposta.
            - Eu vou tomar banho...dorme um pouco mais.

            Quando voltou para o quarto, Neal vestia o roupão e ainda tinha os cabelos molhados. Percebeu que Rachel realmente tinha apagado novamente enrolada no lençol. Organizou as roupas que estavam espalhadas, a bagunça que ele e Peter deixaram enquanto trabalharam no dia anterior e ficou pensando no rumo que as coisas estavam tomando. Um rumo gostoso e perigoso na mesma proporção. Ela era viciante...e ele ia sofrer quando voltasse ao presídio.

            Uma batida leve na porta o acordou. Quando abriu viu Elizabeth já arrumada e sorrindo. No fundo do quarto viu Peter segurando George. O menininho não estava chorando, mas parecia inquieto.

            - Oi...acho que agora ele quer o pai e a mãe. – Ell disse suavemente.
            - Claro. Eu não bati porque achei que podiam estar dormindo. Muito obrigado, Elizabeth. – Peter se aproximou com a expressão fechada. – Vejo que se deu bem com o tio Peter, George! Vem com o papai agora.
            - Ele não atrapalhou nada, Neal. Não se preocupe. Dormiu a noite toda. – Disse o amigo que, aos poucos, se acostumava a ter crianças por perto. – E Rachel?
            - Dormindo. – Ele olhou-a. Estava totalmente coberta pelo lençol. – Entrem. Eu já vou chamá-la.
           - É...sei que deve estar cansada...mas temos que estar no FBI em pouco tempo. – Peter respondeu. – Temos que cuidar dos outros casos...e jogar aquela isca para Lucy.
            - Ok...eu vou ligar para o Mozzie. Ele vem e pega o George.
            - Não! – Gritou Ell. – Diga que ele vá lá para casa. Eles ficam lá e eu preparo um almoço delicioso.
            - Você não tem trabalho hoje, Ell? – Peter estranhou.
            - Nada que não possa ser adiado. – Ela queria curtir George mais um pouco.

            Enquanto Peter e Elizabeth foram arrumar algumas coisas no outro quarto, Neal colocou George ao lado dela da cama. Ele sente seu cheiro e vai se aproximando. Com cinco meses, era fácil rolar na cama...logo George ia estar engatinhando. Com o toque da mãozinha do filho em seu rosto, Rachel acordou pela segunda vez naquela manhã.

              - Bom dia...mais uma vez. – Disse Neal. – Veja quem está aqui agora.
          - Bom dia, rapazes. – Dessa vez os olhos deva estavam no filho. Ele estava ficando tão lindo. Crescia a cada dia. E ela sentia que logo não o veria mais todos os dias. Voltaria ao inferno de vê-lo só aos sábados.
            - Tem água quente. Eu vou preparar uma mamadeira pra ele. Você tem que se arrumar, Rachel. Temos que sair logo.
            - Ok. – Ela respondeu, mas ainda ficou deitada brincando com George. – Acho que podemos começar a dar frutinhas para ele. Esmagadas.
            - Vamos tentar então. – Ele olhou para o relógio. – Você tem 30 minutos para tomar banho e se arrumar, Rachel.

            Ela se assustou.

            - Sério? Só? – Já tinha pulado da cama e deixado George nos braços do pai.
            - É. Por que a correria? É tempo suficiente. – Só mulher mesmo para não conseguir se arrumar em meia hora.
            - Não para chapear os cabelos! – Ela se olhou no espelho. - Olha isso! Vou ter que lavar novamente, passar um creme e deixar cacheado mesmo!

            Neal rio e foi cuidar do filho enquanto ela se arrumava.

            Quando saiu do banheiro, Rachel usava uma regata branca leve e calça comprida. O cabelo, bem crespo, estava arrumado para o lado e os cachos vermelhos caíam livremente. Tinha uma maquiagem leve no rosto. Estava maravilhosa.



            - UAU – Neal disse com a vozinha fina de uma criança. – Mamãe, você está linda assim. 

            A voz era infantil, mas o elogio bem masculino. Ele achava ela linda assim. Até combinava mais com a personalidade forte de Rachel. Era...indomável feito ela.

            Peter e Elizabeth entraram cortando o momento em família.

      - Prontos? – Avisou, Peter. - Precisamos descer. Parece que o Stone está nos esperando. Provavelmente veio nos cobrar a solução do caso.
            - Vão descendo. – Rachel disse. – Eu só vou colocar umas coisas na bolsa e já desço.

            Assim o fizeram e, na rua, colocaram Elizabeth em um táxi com George. Mozzie ia direto para a casa dos Burke.

            Peter e Neal ficaram esperando Rachel na frente do hotel por alguns minutos depois que buscaram o carro. Não demorou para Peter notar o bom humor de Neal. O motivo era óbvio demais até para ser comentado.

            - Eu sabia que vocês dois juntos ia terminar assim. – Foi seu comentário.
            - Somos adultos, temos desejo um pelo outro, temos apenas mais alguns dias juntos. Por que não rolaria? – Neal não tinha por que esconder que ele e Rachel haviam transado. Não deviam satisfação. – Eu sou louco nela, Peter.
            - Isso você não precisa dizer. – Era claro feito água. – Só que eu achava que você amava a Rebecca, calma, delicada e estudiosa, não a Rachel...que é melhor eu não descrever as características.
            - A Rachel não é só isso que você vê...ela tem coisas que eu gosto. Quer saber? Eu nem lembro mais da Rebecca lá do museu... a Rachel é ela melhorada. – Ele estava completamente apaixonado e isso assustava Peter.
            - Só tenha cuidado, sim? Não jogue fora por ela a vida que você conquistou depois que veio para o FBI. Não quero que ela te jogue no crime novamente, Neal.
            - Eu sei o que eu quero, Peter. Só que a Rachel estará junto agora. Só isso. – Era simples assim.
            - Você, George e Rachel...mas ela no presídio...é isso? – Peter perguntou. – É essa a vida que você quer?
            - Eu não tenho tanta certeza de que será assim, Peter. As circunstâncias ainda podem mudar. – Ele sorriu e colocou seu chapéu. – Além disso...hoje é um dia feliz! Vamos aproveitar!



            O FBI seguia agitado naquela manhã. Muitos agentes trabalhavam em vários casos. Algumas coisas esperavam por Peter, outras corriam sem precisar que ele agisse. Quando chegaram, Jones atendia Stone com informações de outros casos, livrando o chefe de ficar dando aquelas explicações.

            Mesmo assim Stone esperou-os. E tinha um motivo para isso. Motivo que agradaria Rachel e deixaria Peter preocupado.

            - Senhorita Turner! – Disse depois de cumprimentar a equipe. – Fiquei sabendo que o caso de Rodrigues teve avanços surpreendentes. E devido a sua participação. Parabéns!
            - Ainda não conseguimos o que buscamos. – Ela não se empolgava com homens com Stone. Só queria resultado. A chutaria se cometesse um erro. – Me dê parabéns quando eu lhe entregar os títulos de governo que procura.

            Stone olhou para todos e resolveu passar a informação que trazia. Fora uma proposta ousada, mas ele conseguiu fechar o acordo com o juiz e a MI5.

            - Se me entregar os títulos, Senhorita Turner, eu trarei mais que parabéns. – Disse assustando Peter.
           - Sim...as algemas e um uniforme laranja. – Ela o encarou desconfiada. – Eu sei que quando terminar o caso voltarei para a cadeia. Não tente me enganar.
          - Não. Não será assim! – Stone falou e observou o sorriso de Neal Caffrey. Ele já desconfiava que isso ia acontecer. – Como parece agradar o nosso consultor.
            - Como será, então? – Peter perguntou temendo a resposta.
            - Eu vim aqui hoje justamente para falarmos disso. – Todos encaravam Stone. Claro que Rachel era a mais ansiosa. – Propus a MI5 um acordo e, com um pouco de negociação, eles concordaram. Desde que eu garanta que você ficará na linha, você permanecerá definitivamente cumprindo pena no EUA e, conforme for seu ‘rendimento’ nesse caso...podemos alongar o acordo. Talvez torná-lo permanente.

            Ela sorriu, Neal não cabia em si de felicidade. Peter explodiu em ódio.

            - O que?!?! Eu não solicitei isso! Era um caso! Que nós nem solucionamos ainda! – Gritou.
          - Peter...por favor. – Neal interviu. Como ele podia não perceber o quanto isso era importante para eles?
            - Não há volta, Peter. EU solicitei. Esse caso é muito importante. E se Rachel conseguir os títulos, ela fica conosco!

            Ela daria a vida por esses títulos. Conseguiria, independente do que lhe custasse. Ficaria no FBI, ficaria com Neal e ficaria com George.

            Passava das 14hs quando Rodrigues entrou em contato. Ele estava desconfiado, não lembrava de quase nada da noite e, certamente, não de terem transado. Mesmo tendo visto as evidências pelo quarto, estava difícil acreditar na noite de sexo selvagem. Suas costas ardiam com os arranhões feitos à unha, mas ele não lembrava do momento em que foram feitos na sua pele. E Rebecca não estava ali quando acordou.

            Telefonou para ela e a questionou sobre isso. Como podia tê-la por uma noite em seus braços e ainda estar louco de desejo? Ainda querê-la tanto?

            - Querido, foi uma noite maravilhosa...fabulosa...eu saí para te deixar descansar e também por vergonha.
            - Vergonha?
            - Sim...tudo o que fizemos...só aquela dança. Nossa, eu devo ter bebido demais.
         - Sim, da dança eu lembro. – Lembrava do quanto ela o provocara, excitará...só não lembrava da transa. – Eu preciso de você, Rebecca. Quero mais uma noite com você. Agora sem champanhe.

            Rachel, Neal, Peter e Jones estavam sentados a uma mesa. Trocaram olhares preocupados. Tinham que freá-lo, mas também precisavam avançar para entrar na casa. Rachel teria que arriscar.

            - Querido...eu estou em um ensaio terrivelmente puxado! Meu coreógrafo está me olhando feio por não estar concentrada na dança. As 19hs me encontre no bar do meu hotel. A gente tem que conversar. Eu preciso te dizer uma coisa muito importante.

            Seria noite de tudo ou nada. A equipe do FBI estaria a postos no bar, mas o que realmente importava era conseguir entrar na casa de Rodrigues. Se Rachel pressionasse demais, podia perdê-lo, se não fizesse nada, andariam em círculos.

            - Terei de mostrar as garras! – Ela disse.
            - Como assim? – Diana perguntou.
            - Vou ter que fazer a apaixonada, desesperada...achando que ele a trata como uma qualquer, que só a leva a hotéis, que só quer sexo. E direi que vou retornar a paris ainda hoje.

            Todos se olharam.

            - É muito arriscado. – Disse Peter.
            - Eu o acho desconfiado demais para me levar na casa sem um...empurrãozinho.
            - Sozinha você não pode ir pra casa dele! – Neal disse.
            - Claro que posso! Ele não vai levar mais ninguém. – Seria impossível.
           - Descobri que a esposa dele era bailarina antes de morrer. Parece que morreu dançando...ainda não tenho todas as informações. Mas comentam que ele mantém o estúdio dela intacto na sua casa. Algo profissional. Você pode explorar isso. – Diana orientou.
            - Sim...dizer que tenho que me preparar para uma apresentação. Com minha equipe, meu ‘partner’. – Olhou para Neal. – E meu coreógrafo. – Olhou para Peter.
            - Assim nós também entraríamos na casa e enquanto você o distrai, eu e Neal procuraríamos. – Peter gostava do plano.
            - Sim, se ele topar que vocês entrem. Acho que terei de pressionar. Ele não vai querer. Vou conseguir ameaçando ir a Paris. – Ela tinha que conseguir. Era sua única chance de ficar com George e Neal.



            Rachel vestiu-se de forma sensual, mas não exagerado. Precisava ainda esconder as marcas que Neal deixou mordendo sua barriga e suas pernas! 

            Foi confiante e aceitou seu beijo logo que se aproximou, no bar. Ruan estava nervoso, sentiu isso. Teria de usar a seu favor. Como de costume, não usava fone de ouvido por aquilo a desconcentrar durante a missão, mas tinha o microfone. Peter, Neal e o restante da equipe acompanhavam tudo.

            - Eu quero você, Rebecca! E quero lembrar que a tive em meus braços.
            - E me terá...acalme-se.
            - Ainda não acredito que estivemos juntos e não lembro. Nunca fui de esquecer o que faço, mesmo bêbado. – Ele estava desconfiado demais.

            Ela teve que arriscar. Pensou rápido.

            - O que acha que se passou então? Acha que sonhei a noite que tivemos? – Ela se fez de brava. – Assim você me ofende? Acha que criei as marcas de mordida que deixou na minha barriga e nas minhas coxas?
            - Eu te deixei marcada? – Ele não acreditava.
            - Sim! – Ela afirmou olhando em seus olhos.

            Surpreendendo-a, Rodrigues a puxou pelo braço e levou até o corredor dos banheiros. Não havia ninguém naquele momento, mas poderia aparecer.

            - O que está fazendo? Pare! – Ela gritou.
            - Eu quero ver as marcas que deixei em você! – Ele estava completamente descontrolado.

            Peter estava nervoso na van. Sentia que estavam perdendo o caso. E nem poderia culpar Rachel por isso. Ela estava fazendo seu melhor. O cara é que era um completo desequilibrado. Neal passava as mãos pelo cabelo, nervoso. Queria que ela estivesse de fone para poder gritar para abortar a operação. Mas não! Claro que não! Rachel só fazia o que desejava e não colocou os fones.

            - Droga! – Peter disse. – Ele vai ver que não há marca nenhuma e vai surtar!
            - Não...ele vai confirmar que há marcas. – Respondeu Neal.

            Mesmo com a situação apreensiva para todos foi impossível não surgir um riso baixo. Todos ali sabiam que não foi Rodrigues quem deixou-a marcada na barriga nem nas coxas. Logo...Neal assumia para todos a noite que teve com ela.

            Mas não tiveram tempo de fazer piadas.

            Rachel tentava improvisar e contornar a situação improvável. Sem nenhum senso de ridículo, Ruan ergueu-lhe a saia para olhar as coxas brancas. E viu as marcas de dentes bem visíveis. Ela tinha a pele tão clara que qualquer coisa ficava marcada e Neal tinha deixado um rastro com os dentes.

Essas mordidas salvaram o caso.

            - É verdade...eu te deixei marcada. – Ele sorria vendo as marcas.

            ‘Era hora de atacar’, Rachel pensou.

            - Claro que é verdade! – Gritou afastando-o e arrumando a saia. – Quem você pensa que é para me expor assim? Qualquer um podia ter me visto aqui! Com a roupa assim! O que iam pensar de mim?! – O primeiro passo era deixá-lo culpado.

            - Desculpe...me perdoe Rebecca...eu...- Ele chegou a gaguejar.
        - Depois daquela noite maravilhosa você me trata assim! Eu devia imaginar! Vocês homens não prestam! Não é porque eu sou dançarina que...que pode me tratar como se eu fosse uma vadia! – Tinha que fazê-lo se odiar pelo que fez. Saber que estava perdendo-a.

            Com esse show, agora, as risadas tomavam conta da van. Até Neal relaxou.

            - Ela virou a mesa ao nosso favor! – Disse Jones.
            - Sério! Ela é muito boa! – Diana elogiou.
            - Graças as mordidas do Caffrey! – Jones teve de complementar a colega.

            Neal não respondeu.

            - Calados! Escutem! – Peter também ria, mas queria acompanhar o resto.

            Rachel achou que era hora do ‘ato final’. Estava confiante.

            - E eu ainda preocupada com como eu ia te dar essa notícia...idiota que eu sou! Quer saber, Rodrigues?! Eu tenho que me preparar para outra apresentação e...preciso ir para Paris. Eu e Nick embarcamos amanhã! Nosso coreógrafo vai também! Estamos com as passagens compradas! Eu ainda tinha dúvidas, mas depois do que você fez aqui...
            - Não...não diga isso. Eu preciso de você aqui, comigo. – Ele só faltava chorar de tão desesperado. - Fique comigo.
            - Não...a distância nos fará bem. Quem sabe no futuro... – Ela o estava preparando para o golpe.
            - Não! Preciso de você. Agora! Não no futuro!
            - Eu preciso me preparar para o concurso e papai...papai está certo. Em casa eu tenho um estúdio profissional, que tem tudo o que eu preciso. Aqui estou sempre sem espaço, trocando de academia. Voltar é o melhor que faço! – A deixa tinha sido dada...viu nos olhos dele a tentação de convidá-la. Era agora. – Meu trabalho é minha vida, Ruan. Preciso voltar a ensaiar com qualidade. Nick e Peter, nosso coreógrafo, querem melhor de minha parte. Toda minha dedicação. Adeus, Ruan...quem sabe um dia nós não nos reencontramos em algum concurso de dança. – Disse e deu-lhe as costas.

Um, Dois, Três segundos se passaram.

            - Espere Rebecca! – Rodrigues gritou.
            - Não torne ainda mais difícil. – Ela respondeu e o riso tomou conta do pessoal da van.
O chefe e a equipe da Colarinho Branco sentiam a vitória se aproximando.
            - Fique! Fique comigo, Rebecca. Venha para minha casa...com Nick e Peter. Eu tenho um estúdio completo. Você terá tudo o que precisa...e será tratada feito rainha. A minha rainha.

            - ISSO!!!!! – Peter comemorou.
           
            Tudo ocorreu rapidamente. Rachel terminou o show no bar com Rodrigues e combinou com ele que arrumaria suas coisas, conversaria com Peter e Nick para mudar os planos e na manhã seguinte, ele enviaria um carro para buscá-los.

            Tinham vencido aquela partida. Agora seria preciso encontrar os papéis o mais rápido possível para que Rachel tivesse que segurar Rodrigues por pouco tempo. Obviamente, ele esperava mais do que dança de ‘Rebecca’.

            Naquela noite, Ell e Mozzie se juntaram a equipe do FBI para um drink comemorativo. Também combinaram o dia seguinte, ou os próximos, caso demorasse mais. Neal pediu que Mozzie e Ell cuidassem de George. Afinal, da casa de Rodrigues não poderiam sair e fazer tantas visitas para ver o menino.

            - Sentirei tanta falta. – Disse Rachel para Neal naquela madrugada, deitada em seus braços depois de transarem.
            - De fazer sexo comigo ou de ver George? – Ele brincou cheirando seus cabelos.
          - Dos dois. – Era a mais pura verdade. – Mas serão esses dias difíceis com o Ruan que me garantirão mais tempo com vocês aqui fora, depois.
            - Rachel...não esqueça que tem de se preservar. Se não der certo, se algo ocorrer e precisarmos desistir...
            - Não! Nem pense em desistir! Eu preciso conseguir...é isso que vai me garantir estender o acordo. Vai me deixar fora da prisão, com vocês. – Era só nisso que ela pensava.
            - Sempre temos outras alternativas...você pode fugir. Se precisar. – Era melhor do que arriscar a vida.
            - Eu teria que viver fugindo com George...ou deixá-lo com você. Não quero nenhuma das alternativas.

            Neal não comentou nada, mas ficou chateado ao perceber que ela não o colocava no plano de fuga. Era ela sozinha ou com George. Não confiava nele. Ou não queria confiar.

            Dormiram e acordaram cedo para poderem curtir o filho antes de ir. O seguraram com força. Não sabiam exatamente quanto tempo ficariam separados. Seria doloroso. Um dia longe de George parecia muito mais.

            - Mamãe volta logo filho...eu prometo. – Ela disse deixando-o nos braços de Ell.
            - Comporte-se garotão! Papai vem te pegar assim que puder. – Neal completou.

            Para Ell e Peter também foi um despedida. Ela já estava acostumada a vê-lo sair em missões. Porém sempre sentia o coração gelar de medo. Achou que quando ele assumisse a gerência da Colarinho Branco isso ia mudar. Pensou que Peter faria apenas serviço burocrático. Mas não! Ele amava aquilo. E seria sempre o Agente Peter Burke!

            - Se cuide, querido. Volte inteiro pra mim. – Elizabeth pediu.
            - Sempre. – Ele respondeu enquanto a via segurar George. Por tantos anos evitou ser pai para não ver aquela cena. Parecia seu destino.

            Chegaram a casa de Rodrigues mal passava das 9hs da manhã. A segurança pesada que evitava qualquer aproximação do FBI, agora lhe abria as portas da mansão. Era um palacete fabuloso. Com olhos e mãos treinados, os três rapidamente confirmaram que a informação era correta: Ruan Rodrigues usava segurança pesada fora da casa, mas gostava de ser livre dentro dela. Não haviam guardas no interior, apenas empregados em que ele confiava. Ele também não instalava câmeras internas de segurança. Não deixava provas do que fazia ali dentro.

            Eles haviam trazido equipamento e pretendiam deixar microcâmeras e microfones em alguns lugares. Mas primeiro precisavam conhecer o ambiente. Jones e Diana estariam acompanhando em tempo real e se comunicando com eles.

            - Tudo ok com a comunicação, chefe. – Jones informou a Peter pelo fone de ouvido. – Estamos ouvindo vocês perfeitamente. – Você e Caffrey nos ouvem?
            - Sim. – Disse Peter.
            - Perfeitamente. – Falou Neal.

            Rachel novamente usava apenas o microfone.
           
            Eles estavam na sala, esperando Rodrigues. Como estavam sozinhos, podiam falar em voz baixa. Ninguém imaginaria que não conversavam entre si.

            - Diana não está com você? – Perguntou Peter.
            - Ela está recebendo umas informações que você pediu. – Jones avisou. – Parece que tem coisa bem interessante.
            - Passem assim que puder. – Ele sabia que se tratava da mulher de Rodrigues.
           - Finalmente você está aqui! – Ruan Rodrigues entrou na sala vivaz. Satisfeito por tê-la no lar. – Minha bela Rebecca!

            Ele beijou-a na frente dos dois convidados, que ignorou completamente, e Peter temeu que Neal entregasse o plano. Rachel contornou a situação.

            - Ruan...calma. Vai me ter aqui por muito tempo. Não precisa agir assim. – Ela se afastou dele. – Seja um bom anfitrião. Nick você já conhece e esse é Peter, nosso coreógrafo.

            Eles trocaram breves apertos de mão. Mas a verdade é que Ruan não estava interessado em ninguém que não fosse Rebecca.

            - Quero conhecer a casa! Nos mostra? – Ela disse agitada. – Quero ver tudo! Em especial o lugar onde poderei ensaiar. – Tinha que manter o disfarce.
            - É claro, minha bela. – Ele segurou-lhe a mão enquanto um rapaz uniformizado subia com as malas. – Michael...por favor...acompanhe os cavalheiros até a parte norte da casa. Eu já tinha pedido para prepararem dois quartos de hóspedes.
            - Dois? – Rachel perguntou fingindo uma expressão de surpresa.
            - É claro. Você ficará no meu quarto. – Ele respondeu simplesmente.
            - É claro. – Rachel manteve a farsa enquanto Ruan passava a mão por sua cintura. – Vão meninos...e não demorem para voltar. Estou louca para conhecer a casa e fazer nosso primeiro ensaio.
            - Até porque...quarto de hóspedes é para visita. – Rodrigues continuou quando eles saíram. – E você não é visita. Será a minha companheira, a dona da casa. A rainha desse lugar.

            A loucura dele era ainda mais intensa ali.

            - Nossa Ruan...assim me sinto mal. – Disse torcendo para Neal e Peter virem logo. Ele era um saco de aturar.
            - Por quê?
            - Ora...essa casa abrigou sua esposa e...
            - Essa casa está sem uma rainha há 9 anos, Rebecca. Ela está carente da presença feminina. Tenho certeza de que você gostará daqui. Eu te darei tudo, Rebecca. Tudo. Para você nunca desejar ir embora.

            Quando começaram o tour pela casa, foram fazendo anotações mentais sobre os lugares em que Ruan não fez questão de mostrar. As portas que ele não abriu eram as que interessavam. Mas viram muito. O lugar era cheio de arte, original e falsificada, as quais Neal identificou logo. A decoração era antiquada, parecia ter parado no tempo, mas cara. Notava-se que Gabriella tinha total liberdade financeira.

            Quando deixaram a casa principal e foram para outra construção no fundo do imenso terreno, Rachel se surpreendeu. Ele tinha realmente uma grande academia. De ginástica e de dança.

            - Nossa! É imenso! – A surpresa foi 100% sincera. Nunca tinha visto nada assim. Era dividido em várias salas.
            - Gostou? – Ele perguntou.
            - Claro. É perfeito.
            - E vocês? – Perguntou Rodrigues para Nick e Peter, que se encontravam calados pelo choque.
            - Maravilhas acomodações, sem dúvida. – Respondeu Peter.
            - Ótimo. Assim, Rebecca terá como dançar lindamente. – O homem provocava tocando-a sem parar. – É tudo separado. Ali é a sala de musculação. Eu utilizo, às vezes. O resto está parado há anos. A esquerda tem a sala de ensaio com barras e espelhos, do outro lado os vestiários. E ao fundo vocês poderão encontrar uma piscina coberta e a sauna.
            - E a direita? – Perguntou Peter questionando a única porta que ele não havia esclarecido.

O homem completamente pirado respondeu.

            - O lugar que Gabriella mais apreciava...a sala dos tecidos. Vamos ver. – Respondeu.

            Quando entraram, todos se surpreenderam. Ali o forro era mais alto e reforçado. Longos tecidos pendiam do teto. E imensos painéis decoravam o lugar.



            - Ela praticava ginástica acrobática diariamente, assim como a dança. – Ele falava com amor. O lugar era quase um santuário à falecida.
            - É Gabriella nas fotos? – Perguntou Rachel.
            - Sim. – Ele parecia emocionado. – É minha falecida esposa. Amava esses tecidos.
            - Eu também pratiquei por muitos anos. Ginástica vertical...era assim que meu professor chamava. – Nisso Rachel foi sincera. – Faz maravilhas pelo corpo e a sensação é ótima.
          - É conhecido por vários nomes. Alguns chamam de tecido acrobático. – Ele parecia em outro mundo. – Gabriela dizia voar aí. Para ela fazia bem para a mente, mais que ao corpo. Era o que me falava.

            Paralelamente, Diana assumia seu posto e aparentava choque. Neal e Peter a ouviam.
           
            - Chefe! Preciso que me ouçam. É importante e é sobre o que queria saber...
           
            Mas Rodrigues estava exigindo atenção.

            - Ora rapazes...depois disso...vocês, como eu, não desejam uma demonstração de Rebecca nos tecidos? – Neal e Peter não sabiam se ela era mesmo boa nisso. Então não responderam. - Eu exijo. Vamos! Troque-se. Deixei uma malha para você no vestiário.

            Peter e Neal tiveram que conversar com Rodrigues antes de dar atenção a Diana. Estilos musicais, vida de bailarino, assuntos aleatórios. Nada que levantasse suspeita.

            Até que ‘Rebecca’ voltou usando a roupa adequada e começou a forçar os tecidos. Puxou um com força, depois o outro.

            - Pensa que permitiria que corresse algum risco, minha bela? – Ruan brincou.
            - Meu corpo é meu instrumento de trabalho, Ruan. Tenho por hábito sempre conferir. – Ainda mais sendo ele louco daquela forma que aparentava. – Coloque uma música, sim?
            - É claro! – Ele foi até o aparelho de som e uma batida instrumental preencheu o ambiente.

            Ela começou a subir e isso deu a possibilidade de Neal e Peter ouvirem Diana já que Ruan estava embevecido dela naquele momento. Não via nem ouvia mais nada.


            - Fale. – Peter sussurrou. Dali em diante, só ouviriam para não chamar a atenção de Rodrigues. Os olhos de ambos seguiam no belo trabalho corporal que Rachel fazia dependurada nos tecidos.
            - Acabo de receber um relatório completo sobre a mulher se Ruan Rodrigues. – Diana começou. – Ela foi encontrada morta exatamente nesses tecidos onde agora Rachel está!

            Neal virou-se tão bruscamente para Peter ao ouvir essa informação que chamou a atenção de Ruan. Ele estranhou o clima. Podia ser louco, mas era inteligente.

            - Algo errado, Nick? – Perguntou.
            - Não...estou encantado com os movimentos. – Disfarçou.

            Rachel notou que algo ocorreu. Eles tinham recebido alguma informação importante. Por isso não gostava de fones. A concentração era importante em qualquer missão. Estava no alto dos tecidos e, para chamar a atenção de volta para ela, deixou-se cair, desenrolando-os até centímetros do chão. Veio em velocidade. Assustou a todos.

            - Nossa! – Ruan disse. – Devagar, querida. Não queremos acidentes.
            - São os anos parada. – Pronto! Tinha a atenção dele novamente. - Vou me exercitar um pouco mais. Está gostando?

            Diana sentiu que podia voltar a falar.

            - A princípio, não passou de um acidente. Ela teria enrolado o próprio pescoço ao tecido e se sufocou. Ele chegou a ser acusado pela empregada da casa, que foi babá de Gabriella durante a infância, de matá-la e usar o equipamento como desculpa. Foi a julgamento e foi absolvido. – Eles escutavam sem se mover para não atrair Ruan. Por dentro, no entanto, Neal e Peter estavam em choque. Mesmo inocente, como ele conseguia ver ‘Rebecca’ nos mesmos tecidos? Como conseguia estar ali sorrindo? – Ocorre que anos depois esse mesmo juiz foi afastado por corrupção. Então não podemos ter certeza quanto a sentença. E a empregada acusou-o, até morrer, no ano passado, de ser o culpado. É daí que vem a fama dele de bipolar! Ela disse no julgamento que Ruan a espancava em crises de ciúme sem razão. Que depois se arrependia e pedia perdão. Mas tudo voltava a se repetir. Então, em uma noite em que o casal deu folga a ela e ao motorista, únicos empregados que ficavam na casa, ela morreu. Segundo a empregada, Ruan a teria sufocado durante uma briga e colocado o corpo já sem vida nos tecidos para disfarçar o assassinato. – Ela se calou por um minuto. – Acho melhor encontrarem logo esses títulos, chefe. E saírem daí o quanto antes.

            Quando Rachel desceu e fez uma saudação ao público, Ruan aplaudiu-a, seguido por Peter e Neal. Ela sorria sem entender porque os dois parceiros estavam tão estranhos. Algo tinha se passado. Precisava ficar sozinha com eles para saber.

            - Linda, linda, maravilhosa! – Ruan gritava esfuziante. – Sabe, minha bela, foi tão maravilhoso vê-la atada nessas cordas que senti vontade de amarrá-la a nossa cama e roubá-la só para mim.
            - É? – Ela fingiu achar graça.
            - Sim. Não deixar mais ninguém ver você. Guardá-la só pra mim. – Ele concluiu com uma seriedade que incomodava.

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