domingo, 10 de março de 2013

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 22: desabafo


            Há 4 dias no hospital, 1 completamente dopada e outros 2 com a consciência ainda abalada com as fortes medicações, hoje era o primeiro momento em que Ana realmente tinha condições de se expressar. E tudo o que ela fazia era chorar. Chorava pelas lembranças, chorava pelas escoriações e machucados na pele clara, chorava por saudade do filho com quem tinha apenas falado pelo telefone porque, devido ao seu estado emocional, não pode vir ainda. Ana tinha medo pelo bebê que esperava e implorava para voltar para sua casa.

Grey não sabia mais o que fazer. Já tinha feito todos os preparativos para que Ana fosse bem atendida em casa, mas não conseguia liberação do hospital para isso.

- Você ainda não teve alta, amor. É pelo bebê. Por favor, só mais um pouquinho de paciência. – Esse argumento fazia com que o choro parasse, mas a tristeza permanecia ali. – Eu vou falar com os médicos. Volto num minuto. Carla...você fica aqui?
- Claro.

Na sala de espera Grey encontrou Kate, Elliot e Grace. Todos sabiam da razão de sua preocupação. Fisicamente Anastásia estava evoluindo bem. Apesar de ainda necessitar de cuidados, não corria nenhum risco. O bebê tinha, corajosamente, superado a fase crítica e, mesmo ainda de risco, a gravidez seguia.
O maior problema era emocional. Nunca conseguiu lidar bem com as lágrimas de Ana. E elas não paravam de cair por sua face nos últimos dias. Tinha medo dessa tristeza toda.

            - Mãe...eu preciso levar a Ana pra casa. Lá, perto do Teddy, com o carinho de todos, ela vai sofrer menos. Eu preciso ver ela sorrir mãe.
            - É pelo bebê que eles a estão segurando aqui, Chris. Converse com o médico. Mas entenda o lado deles. Se a Ana perder esse filho aí sim sofrerá muito mais.
            - Nem diga isso mãe. Eu já falei com Flynn. Ele vai vir aqui conversar com ela. Acho que quando se abrir ela ficará melhor.
            - Ela não te contou nada? – Perguntou Elliot.
            - Nada. Quando eu tentei puxar assunto ela chorou ainda mais e eu não soube como lidar com isso. Mas em casa será melhor. Ela se sentirá mais segura. Eu queria que Flynn a atendesse lá. Não nesse lugar frio, mas no lar dela. Kate, eu preciso da sua ajuda.
            - O que eu posso fazer? – As amigas não tinham conversado muito nesses dias. Kate apenas tinha lhe emprestado o ombro para desabafar, mas Ana preferiu o silêncio. E Kate sabia que Ana só falaria quando tivesse força. Precisariam esperar. Mas ela estava ali.
            - A Ana não fala nada mas...eu sinto que o cabelo é algo que também a incomoda. Só que...se eu comentar algo ela pode ficar chateada achando que eu não a acho bonita e essas coisas de mulheres. Você poderia, sei lá, chamar o cabeleireiro dela aqui pra fazer um corte no cabelo. Eu quero que a Ana volte a ver o quanto ela é bonita.
            - Claro. Vou ligar pra ele.
            - Eu vou ver se consigo a liberação do hospital. Se conseguir, levo ela ainda hoje pra casa. Aí vamos precisar ver uma roupa leve pra ela deixar o hospital. Algo que seja fácil de tirar e colocar, por causa dos machucados. E bonito porque ainda há fotógrafos em todas as saídas do hospital. Não quero que ela veja nenhuma foto em jornal e fique chateada com sua aparência.
            - Chamarei o maquiador para disfarçar o hematoma no rosto. – Kate decidiu.
            - Isso. – Grey concordou. – Eu quero blindar Ana contra qualquer comentário que colabore pra piorar essa depressão dela. Assim que estiver nós vamos viajar para um lugar tranquilo. Ela tem que esquecer esses dias de terror.


            Ana fechou os olhos...não queria conversar com sua mãe. Queria sua cama, seu apartamento...queria a solidão. Queria poder chorar sem ter ninguém por perto. Todos diziam que havia acabado o pesadelo. Não era verdade. Não tinha acabado e não era um pesadelo. Era uma realidade que faria parte de sua vida para sempre. Teddy...queria ver Teddy, abraçar, beijar seu menino especial. Mas entendia o hospital. Estava com o rosto destruído. Iria assustar ao filho. Tudo que havia feito era por ele. Entregou-se ao um louco endemoniado para não permitir que Teddy fosse pego. Mas acabou colocando a vida de seu outro filho em risco.
            Não pensou na gravidez naquele momento. Como pode? Era uma péssima mãe. Uma boa mãe não se esqueceria do filho que estava em seu ventre. Jamais. Quando lembrou já era tarde, ele já corria risco. E agora podia perder ele. Perder seu segundo pontinho. E tinha Grey. Ele entrava e saía do quarto sempre nervoso, quando ela chorava seus olhos ficavam mais escuros. Disse que desejava que ela tivesse o bebê. Era verdade. Grey não mentia...nunca...ao contrário dela que escondeu dele esse bebê.

            Kate entrou no quarto como um raio.

            - Amiga, não durma! Você já dormiu demais nos últimos dias. Tem que acordar para a vida agora. E tem um compromisso na sua agenda.
            - Compromisso?
            - Sim. Importantíssimo.
            - Eu não vou depor, não vou dar entrevista a nenhum colega seu no jornal e nem ceder nenhuma foto para imprensa. – Ela disse séria.
            - Anastásia! Pensa que eu, sua amiga há séculos, ia pedir isso?
            - Não amiga...me desculpe. Eu estou sendo péssima com todos vocês. É que eu acho que quero ficar sozinha.
            - Não filha...nem pensar. Eu sou sua mãe. Quero ficar com você. – Carla achava que Ana ainda guardava mágoa por ela não tê-la acolhido há quase cinco anos, na época de se divórcio. Talvez estivesse certa.
            - Dona Carla...deixa eu com a Ana um pouquinho?
            - Claro meninas...claro. – Disse saindo.
            - Precisamos colocar um sorriso nesse seu rostinho Ana...urgentemente.
            - Não tenho nenhum motivo pra sorrir Kate.
            - Você tem o homem que ama desesperado pelo seu bem estar, um filho te esperando em casa, outro na barriga, familiares e amigos dispostos a tudo pela sua felicidade. E a Super-Kate aqui prontinha pra chutar o seu traseiro se você não se livrar dessa depressão. Não é o suficiente.

            Ana observou a amiga em silêncio por um momento.

            - Eu te amo tanto amiga. – Ana disse antes de chorar mais uma vez.
            - Não, não e não. Chega Ana. Ninguém aguenta mais te ver chorar. Exploda, fique com raiva, se desespere, tenha ódio por Jack e pelo que ele te fez, mas BASTA de lágrimas.
            - Você está certa. – Ana enxuga as lágrimas com o antebraço já que as mãos ainda estão enfaixadas. – E qual é o meu compromisso?
            - Ficar linda.
            - Ha? Amiga, acho que você ainda não deu uma olhadinha no meu estado. Toda lanhada e com esse cabelo acho difícil ficar linda. Vai ver que é por isso que o Grey fica tão pouco tempo aqui. Deve tá com nojo de me olhar.
            - O que? Você bateu com a cabeça. Só pode! Ele tá é movendo mundos e fundos pra conseguir te levar pra casa. Se você soubesse amiga o desespero que esse homem passou sem você.
            - Eu sei. – Havia feito todos sofrer demais.

            O cabeleireiro chegou e Ana tratou de explicar que sabia que ele não faria milagres. Estava um horror e o máximo que poderiam fazer era dar um corte bem desfiado e esperar o cabelo crescer novamente.

            - Vai ficar modernérrimo garota. Nosssaaaaa faz muito tempo que eu queria arriscar um corte diferente em você. Seu cabelo é lindo comprido, mas os curtos tão muito na moda. Todas as atrizes estão cortando. E seu rosto fino e olhos grandes vão ficar divinos. Deixa, deixa, deixa eu fazer jeito que sempre sonhei. Deixa? Se não quiser...podemos colocar um aplique e você volta a ficar com ele longo.
            - Arrisca amiga! – Kate a encorajou .

A animação deles a contagiou e Ana deu carta branca. O resultado ficou surpreendente.

            Enquanto o profissional da beleza trabalhava no quarto de Ana, Grey cuidava dos últimos detalhes para transferir a esposa para casa. Ele teve de preparar várias mudanças para receber Ana. Mas com dinheiro, tudo é possível. Essa noite, Ana dormiria na cama deles. Gail foi avisada e Teddy estava feliz por finalmente reencontrar a mãe.

            Estava indo para o quarto da esposa, mas viu Carla triste no corredor e foi conversar com a sogra.

            - Aconteceu algo? Ana está bem, Carla?
            - Sim, sim. É que têm alguns momentos em que eu queria ser mais próxima da minha filha. Ela parece ter mais intimidade com a sua mãe ou com a amiga. Ela nunca me perdoou pelo que lhe fiz.
            - A Ana não perdoa facilmente, Carla. Eu sei disso. Mas ela te ama. Sempre fala em você com muito sentimento. – Mas até hoje ele guardava uma curiosidade. – Porque vocês brigaram.
            - No dia em que vocês se separaram, ela me telefonou. Queria que eu lhe desse abrigo.
            - Eu não a coloquei na rua, Carla. Jamais faria isso com Ana.
            - Eu sei. Ela me disse isso por telefone. E eu sempre confiei em você, Grey. E por isso eu lhe disse não. Achei que ir para o outro lado do país só pioraria as coisas. Fui dura com ela, disse que deveria lutar por seu casamento. E, o que realmente a magoou, não demonstrei preocupação pelo bebê. Não era isso. Eu sei como é ruim criar um filho sozinha, não queria isso pra minha menina. Mas ela jamais me perdoará por isso.
            - Todos nós erramos com Ana nessa ocasião. Não se condene, Carla. Na hora certa você e Ana vão conversar. Eu acho que a chegada desse novo bebê vai nos ajudar a recompensar Ana por tudo o que ocorreu.
            - Eu amo o meu neto.
            - Eu sei que ama, Anastásia também sabe.

______________#______________

Quando entrou no quarto onde a esposa estava instalada Christian teve uma grata surpresa. Ela estava arrumada, com os cabelos cortados e penteados. Tinha um perfume suave no ar e, o melhor, estava mais feliz. Não era como se nada daquilo tivesse ocorrido, mas, dentro das possibilidades, ela estava melhor.

- Você está linda. – Derreteu-se sem se preocupar com a plateia de Kate e do profissional.
- Não exagere. Estou apenas menos horrorosa graças ao corte no cabelo e a maquiagem.
- Não vou discutir isso apenas porque tenho algo melhor pra fazer.
- O que? – Ela perguntou.
- Te beijar.

Ele, pela primeira vez com ela consciente após o ocorrido, tocou seus lábios e a beijou com o amor e a paixão de sempre. Mas a sentiu mais fria. Ficou claro que Ana não desejava aquele contato. Não ainda, ao menos. O alerta da médica quanto a abusos que ela pode ter sofrido voltou a tocar sua mente. Não iria pressionar ali. Quando ela estivesse em casa eles conversariam.

- Consegui sua alta. Vamos pra casa? – Foi só o que lhe disse antes de lhe beijar a testa selando um silencioso acordo. Ele ia esperar pelo tempo dela.

___________#__________
A ‘casa’ que Grey se referia era a dele, a deles, a casa construída para Ana. Não o apartamento em que ela se refugiou por tantos anos. E mesmo a casa não era a mesma que Ana conhecia. Estava diferente e por causa dela.
Havia uma cadeira de rodas esperando ao lado da porta de entrada. Grey passou reto por ela carregando a esposa nos braços. Teddy não estava. Tinha ido ao parque com Ava para que só visse a mãe já acomodada na cama e não sendo carrega. Podia ser uma imagem forte para o garoto.
Ao lado da escada da sala tinha sido instalado um moderno elevador. Ana olhou rapidamente.
- Para você poder circular livremente enquanto precisar da cadeira de rodas. – explicou Grey.
- Mas não estou nela.
- E não vai usá-la muito. Só quando eu não estiver em casa. A não ser que prefira ela aos meus braços.
- Sempre os seus braços. – Disse aconchegada.
- Foi o que imaginei. – Ele entrou no quarto e a instalou na cama.

Ali também tinham feito mudanças. As portas, de entrada, banheiro e closet, estavam mais largas. Grey viu a confusão em seus olhos.

- Sim. A casa toda foi modificada para o seu conforto. A cadeira passa com facilidade pelas portas dos cômodos que você mais utiliza...incluindo a biblioteca. O nosso banheiro foi adaptado e você conseguirá se banhar sozinha, se desejar. Coisa que eu não acho que vá acontecer. E a sala de ginástica foi equipada com materiais para a suas sessões de fisioterapia.

- Nem quero pensar no quanto isso custou a você.
- Ótimo, não pense.
- Grey...quando eu falei que queria vir para casa eu...
- Se referia ao seu apartamento. Eu sei. Mas a resposta é não. Ana, lá você não tem espaço para  circular numa cadeira de rodas, nem um cômodo para a enfermeira, muito menos uma área para fisioterapia. Sem falar que Teddy já está adaptado a essa casa. Esse é o lar de vocês.
- Cadê meu menino? Quero vê-lo.
- Já está vindo. Vou lá fora esperá-lo. – Uma mulher de branco entrou no quarto. – Essa é Lisa. Vai te ajudar no que precisar, Senhora Grey.

Quando estava saindo, Ana o chamou.

- Chris?
- Sim.
- Obrigada...por se preocupar comigo.
- Estamos aqui para satisfazer.

________________#__________________
Quando subia as escadas, dessa vez com Teddy no colo, Grey estava ansioso. Sabia que o filho era o melhor remédio para Ana. Teddy lhe daria a esperança e a felicidade que precisava.

- Tem que dar muito carinho pra mamãe, Teddy. Dizer pra ela o quanto sentiu sua falta. Dar beijinhos. Só cuidado pra não apertar ela muito. Tá bom?
- Tá papai!
- E diz pra ela que ela tá linda. As garotas adoram ouvir isso. – O menino riu do pai. – É verdade. Um dia você vai tentar ganhar o coração de uma garota e vai lembrar do que o papai te disse.

Mas Teddy não estava preocupado com garotas nesse momento. Só queria saber de sua mamãe.

- Mãeeeeeeeeeeeeeee! Você demorou pra voltar. – Disse ele correndo até a cama e se abraçando à Ana. – Você tá machucada.
- Cuidado Teddy. – Christian orientava.
- A mamãe já está bem Teddy. Estou aqui com vocês.
- Eu não quero mais ficar longe de você.
- Não vai mais ficar longe. – Ana sentiu as lágrimas correrem novamente. – Nunca mais. Nós vamos ficar coladinhos agora.
- Eu, você e o papai?
- Eu, você e o papai. – Disse Ana chamando Grey para o outro lado da cama.

Eles ficaram abraçados em silêncio por uns minutos. Até que Teddy lembrou de algo muito interessante.

- É verdade que o papai colocou um bebê na sua barriga? – Perguntou o menino curioso.
- Quem te disse isso, Theodore? – Ana questionou.
- Eu ouvi a tia Kate falando com o tio Elliott.
- Língua de trapo! – Dessa vez foi Grey a xingar a amiga de Ana.
- Sim, filho. Tem um bebezinho, bem pequenininho na barriga da mamãe.
- Aaaa e você gosta dele papai? – Christian estranhou a pergunta. Era estranho como mesmo tão pequeno Teddy parecia saber tudo o que se passava. – Mais do que gostava de mim?
- Teddy! Não diz assim. O papai sempre gostou de você. – Ana tentou minimizar as coisas.
- Mas quando eu tava na sua barriga a gente não morava aqui e o papai não brincava comigo quando eu era bem pequenininho.
- Teddy, vem aqui com o papai. – O menino ergueu os braços e Christian o fez saltar sobre Ana na cama. – Sabe como você aprende muita coisa a cada dia? Fica mais esperto, mais inteligente, mais legal?
- Ahaa. – Concordou o menino.
- Então, o papai também aprendeu muito. A cada dia ele aprendeu a ser um papai melhor pra você. Eu não sou o melhor...ainda...mas um dia
- Você é! É o melhor de todos!
- Mas não era quando você era pequenininho e estava na barriga da mamãe. Por isso vocês não moravam aqui. Mas você é um filho mais velho tão bom que ensinou o papai como ser legal.
- E agora a mamãe vai ter outro bebê. – Ele ainda tava tristonho com a ideia de dividir os pais.
- E esse bebê vai ter um grande irmão mais velho. – Ana disse. – Ele vai precisar de irmão pra aprender a brincar, pra aprender a jogar futebol como você.
- Eu vou ensinar ele a tocar bateria! – Grey não gostou muito disso.
- Ou piano. – Disse o pai.
- Isso também papai. – Agora ele já estava bem mais feliz. – Eu quero contar para Ava que eu vou ter um irmão!

Ana e Christian acharam melhor deixá-lo curtir o momento e não lhe falar da possibilidade de ser uma irmã. Mais tarde falavam disso.

- Vai lá garoto. Você sabe o número da tia Kate. – Disse Grey.
- E mamãe...- Disse da porta. – O papai disse pra eu te dizer que você tá linda.
- Teddy! – Grey ria do filho.

Christian ficou ali com Ana. Estavam abraçados na mesma cama em que dormiram nas ultimas semanas. Sexo não era um pensamento agora.

- Eu não queria que ele soubesse. Se alguma coisa acontecer ele vai sofrer também. – Disse Ana.
            - Nada vai acontecer. – Ele beijou a barriga dela. – A doutora virá aqui para acompanhar toda a evolução, você fará repouso e nós vamos ganhar outro bebê saudável e com inteligência acima da média.
            - Você é um exibido. – Ana disse.
            - Sou mesmo.
            - Nós precisamos conversar, Grey. – Ela ficou séria novamente.
            - Eu vou te ouvir na hora que você quiser. E o doutor Flynn também.
            - Não quero fazer terapia. Quero falar com meu marido.
            - Shiiiiii. – Para acalmá-la, ele lhe deu beijinhos na face. Quando chegou nos lábios ela enrijeceu. – Ana, me conta o que houve. Você está fria comigo, não quer me beijar.
            - Nada...é só que eu estou machucada e...não posso fazer sexo pelo bebê e...
            - E eu não sou um pervertido que exigiria sexo nesse momento de você, mesmo que não houvesse bebê. – Grey não gostava de mentiras. – Quero saber Ana! Quero saber o que te faz fugir até dos meus beijos.
            - Não, Ana. Eu não quero te fazer chorar. Só quero que se abra. Que desabafe comigo. Quero que confie em mim. Eu vou te apoiar, você sabe disso. Preciso saber o que aquele desgraçado te fez. O que ele te falava. O que te fez ficar assim.

            Ela não queria falar. Sentia que nada a faria esquecer as horas em que pensou que iria morrer sozinha naquele lugar. Nada que falasse a faria esquecer o gosto do medo, a vergonha pela humilhação, a dor física e mental.

            - Eu tenho vergonha. – Disse.
            - O que eu posso te falar para que entenda que nada do que aconteceu naquele lugar vai mudar a nossa relação? Ana...aquele demônio não pode mais interferir na nossa vida.
            - Não é fácil assim. Eu lembro de tudo...lembro das ameaças, lembro da dor, lembro dele me tocando.
            -  Eu sei o que é ter um trauma Ana. E sei que isso só passa com ajuda profissional e com o tempo. Deixa eu te ajudar...eu te amo.
            - Eu te amo, Grey.

            Ele apenas lhe beijou a testa dessa vez. Respeitar limites era algo tranquilo para ele. Sabia como agir.

            - Eu falei com a médica. Ela me garantiu que você não foi estuprada. Preciso que me diga, Ana, se ela está enganada.
            - Não, não está. Ao menos não segundo a definição médica para estupro. Mas não foi porque ele não quis.

            Ela estava falando no seu tempo. Christian ficou calado esperando por mais.

            - Ele queria, mas não se excitava.
            - O que? – Por essa ele não esperava.
            - É...ele ficava se tocando. Mandava eu...tocar...chupar...mas nada adiantava. Ele não endurecia.
            - Estranho. No tempo que atacava as secretárias ele não era assim. Deve ter ocorrido algo na cadeia que o deixou impotente. Castração química, talvez.
            - Não sei. Mas ele ia ficando nervoso. Me tocava e ordenava que queria que eu o deixasse duro. Me colocava de joelhos a sua frente e...
            - Shiiii...não precisa.
            - Aí ele me batia. Dizia que a culpa era minha. Falava que alguém tava esperando uma encomenda. Que ia mandar partes minhas para as pessoas.
            - Era o seu cabelo. Para mim. Veio numa caixa. – Ele fez carinho nos fios curtos. – Adorei seu cabelo assim.
            - Não pode mais trançar.
            - Realçou seus olhos. – Ele começou a abrir a roupa dela.
            - Ele dizia que ia tirar meus dentes. Que alguém esperava pelos meus dentes. – Ana lembrava das ameaças.
            - Esquece isso Ana. Era para te assustar. – Disse enquanto abria seu sutiã.
            - O que está fazendo?
- Você vai relaxar num banho de banheira.
- E você?
- Estarei junto, é claro. Não pense que irá se livrar de mim, senhora Grey.


Nenhum comentário:

Postar um comentário