domingo, 24 de fevereiro de 2013

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 20: confronto final



            Era como uma missão de guerra. Tudo estava armado e sob a coordenação do ‘comandante’ Taylor. Haviam homens espalhados pelas ruas do centro próximas ao restaurante. Todos tinham descrições minuciosas de Jack e sabiam que a qualquer aparição o suspeito deveria ser discretamente observado e seguido enquanto Taylor e Christian era alertados.
            Grey acreditava que estavam numa luta contra o relógio. Nada garantia que Ana ainda estava viva ou que Jack não teria um surto a qualquer momento e colocaria fogo no cativeiro. Enquanto isso Grey ficava em casa para não alertar os policiais antes da hora e estar lá para o caso de Jack ligar. Estava nervoso, inquieto e sem paciência com ninguém. Menos Teddy. O menino tinha passagem livre com o pai para qualquer coisa, inclusive não fazer nada além ficar no colo, com preguiça de caminhar. Sem a mãe Teddy parecia muito mais carente de atenção.
           
            - Quer tocar piano um pouquinho? – Perguntou baixinho. Era bom porque na sala do piano não havia mais ninguém. Poderiam ter um momento apenas de pai e filho.
            - Quero. E quero mostrar pra mamãe uma música bem bonita quando ela voltar. – Respondeu o garotinho já menos sonolento e mais animado.

            Ao piano, sentado sobre as pernas de Christian, Teddy foi aprendendo a música nova aos poucos. Era uma melodia simples e bem mais leve que a que aprendeu observando o pai escondido.
- Tá gostando? Quer tocar mais? – Não desejava que o menino tocasse para satisfazê-lo.
- Quero papai.

Levaria mais algumas aulas para tocá-la na íntegra e sozinho, mas era visível a facilidade do garoto em aprender a sequência de notas e a leveza do toque das teclas. Só pararam quando o telefone de Christian tocou e Taylor o alertou para a necessidade de ir até o centro. Jack tinha aparecido.

Era hora da caçada.


Haviam informações de que Jack saiu do restaurante levado a comida e, entrando num carro discreto e popular, seguiu para uma parte mais deserta da cidade. Dois homens o estavam acompanhando de longe enquanto Grey e Taylor estavam a caminho.

-Senhores, peço desculpas, mas fui chamado no escritório para resolver um problema urgente. Qualquer ligação desse maníaco, por favor, me alertem. – Disse tentando disfarçar.
- Você vai trabalhar mano? – Elliot achou isso muito estranho. Seu irmão não seria frio assim. Estava chorando há pouco tempo e agora ia trabalhar? Não. Aí tinha coisa errada.
- Os negócios não param por causa dos meus problemas pessoais.

Ele saiu rapidamente sob olhares curiosos dos familiares e foi até a garagem pegar seu carro. Quando colocava o cinto, no entanto, Elliot abriu a porta do carona sem ser convidado e entrou no veículo.

- Faz tempo que não vou no seu escritório. Vou te fazer companhia. – Disse tranquilamente.
- Sai. Não posso perder tempo.
- O ‘negócio’ é tão urgente assim?
- Sai Elliot!
- Não. E pode abrir o jogo porque ganhar dinheiro é a última coisa que você fará enquanto a Ana não estiver a salvo.
- Não é seguro Elliot. Você tem esposa e filha. Sai do carro.
- Você também. Pelo que sei, aliás, tem dois filhos agora. Então se vai se arriscar em algum lugar, não vai sozinho.
- Só que a Ana e o meu filho tão correndo risco de morte em lugar perto das divisas da cidade. E...eu não...eu não sei como eu vou poder olhar nos olhos do Teddy se eu não lhe trouxer a mãe de volta. Se a Ana não ficar bem, Elliot, minha vida desaba. – As mãos de Christian tremiam.
- Troca de banco e me diz por onde ir. Você não está em condição de dirigir.

E eles seguiram com Christian explicando o caminho até que Taylor e outro segurança entraram no carro.

- Precisamos ser discretos. Ele não pode, de modo algum desconfiar. Se não ele acaba com a Ana. – Disse Grey quando encontraram um dos que seguiu Jack.
- Daqui em diante temos de ir caminhando, senhor Grey. O local é deserto e os carros iriam nos denunciar.
- Ok, vamos. – Quanto mais rápido melhor.
- Acho que é uma boa hora para alertar a polícia, chefe. – Taylor lembrou.
- Ainda não. – Grey foi enfático. – Cerquem a casa. Quero tentar entrar.

Chegaram a casa afastada e a ordem era observar. Eles o fizeram, mas não viam nem ouviam barulho de dentro da casa grande e com todas as janelas fechadas. Parecia que não tinha ninguém lá dentro a não ser pelo carro estacionado na frente.

- Tem certeza que é ele que está aí?
- Sim, Sr. Grey.
- Tem algo errado...algo errado. – Grey sentia que tinha de fazer alguma coisa.

Mais algum tempo e o seu celular tocou. Era ele. Atendeu.

- Você está aqui, não está? – Disse assim que foi atendido. Grey se manteve calado. – Liguei para sua casa e você saiu.
- Estou no escritório.
- Não, não está. – Do outro lado da linha ouviu um grito de dor. – Grey...Grey...eu te avisei. Porque tem de ser tão nervoso? Eu avisei que se errasse quem pagaria seria a Ana. Não percebe que assim me obriga a machucar nossa doce Anastásia? – Mais um grito ecoa pela casa.
- É eu que você quer. Me deixa entrar aí. Vamos resolver nossos problemas de uma vez por todas! – Era perigoso, mas a única oportunidade.
- Você e o seu exército?
- Só eu.
- Quer morrer junto com ela?
- Eu, Jack. Seu problema é comigo.
- Ok. Entre. Só você. Não esqueça que eu tenho uma arma apontada pra Anastásia. Um passo errado e ela morre.

Grey colocou uma arma presa na parte de trás da calça e foi em direção a casa. Elliot e os outros sabiam que nada o faria mudar de ideia. Mas estavam apreensivos. Christian não estava entrando para lutar contra um bandido, mas sim contra um louco.

- É hora de chamar a polícia, Taylor. – Foram suas palavras antes de se afastar.

A porta de madeira era velha e rangeu ao ser aberta. Passou pela sala, olhou a cozinha e o banheiro e seguiu para o ultimo quarto. O único com a porta fechada. Abriu. Estavam lá. Jack usava uma arma com mira laser apontada para a cabeça de Ana. A visão do estado dela o assustou, mas também o fez ter mais ódio. Muito machucada e bem mais magra, tinha braços, pernas e quadril marcados por hematomas e vergões. As mãos pareciam ter fraturas e o rosto também carregava muitas lesões. Ela estava deita no chão e tinha uma das pernas amarradas a um móvel pesado. Chegava a ser ridículo levando em consideração que Ana apresentava tanta exaustão e machucados que não tinha nenhuma chance de levantar e sair andando.
Queria matar Jack com as próprias mãos e da forma mais dolorosa possível. Não seria um simples tiro. Não! Isso não era o suficiente depois de todo o sofrimento que ele causou em Ana. Que tipos de tortura não lhe fez passar? Quais traumas não lhe deixou?

- Larga essa arma e vem me enfrentar homem a homem, punho a punho. – Sua única oportunidade era mexer com o ego de alguém fraco mentalmente. Precisava tirar aquela arma da equação para igualar as chances. – Você sempre quis medir forças comigo. Eu estou aqui. Vem!
- Eu podia simplesmente lhe dar um tiro bem no meio do peito.
- Mas que graça teria para você? – Tinha que blefar. Não podia morrer ali e deixar Ana a mercê desse louco.

Ana observava os dois sem ter forças para fazer nada a mais. Jack estava completamente louco e Grey tentava se aproveitar disso para fazê-lo largar a arma. Era desesperador não poder ajudar em nada. A tensão do momento era grande, não tinha a mínima oportunidade de ajudar Grey e pedia por um milagre para sair viva dali. Em alguns momentos jurou que morreria sem que soubessem onde ela estava.
Do chão ela assistiu Jack cair na isca de Christian e largar a arma longe de ambos. No mesmo instante Grey se jogou sobre o inimigo e passaram a trocar golpes violentos. Christian era forte e lutava bem desde muito jovem além de manter grande preparo físico. Mas Jack também estava bem preparado e eles trocavam socos, chutes e joelhadas por igual. Não tinha como saber quem iria ganhar a disputa.
Com uma rasteira Jack derrubou Grey no chão e antes dele poder se levantar pegou um isqueiro e jogou sobre um estofado. As chamas logo ficaram fortes e a fumaça começava a tomar conta do lugar.

- Vocês não vão sair vivos daqui, Grey. Eu não me importo de morrer, mas vocês vão comigo!
- Seu desgraçado! – Grey gritou ao ver as labaredas subirem. Elas ainda não alcançavam Ana, mas, se não fizesse algo, logo, os três morreriam ali.

Saiu do chão rapidamente e se jogou contra Jack fazendo-o se chocar contra a parede. Ele bateu a cabeça e pareceu perder a consciência. Não quis arriscar. Pegou a arma que estava em sua calça e descarregou as balas no peito do inimigo. Ana assistiu a cena chocada. Christian jamais tinha dado um tiro na vida, mas, naquele momento, só parou de apertar o gatilho quando não haviam mais balas.
Só então ele pegou o canivete que trazia no bolso e cortou a corda que prendia Ana aquela casa. Assustado com a quantidade de disparos Taylor e Elliot chegaram correndo ao quarto em chamas. Em meio a fumaça, não viram o corpo de Jack, mas, vendo Grey e Ana vivos e observando o brilho de ódio nos olhos dele souberam quem tinha vencido a batalha.

- A polícia está chegando. – Elliot viu Ana muito ferida e sabia que tinham de sair logo dali. Christian também estava machucado no rosto. – Eu levo a Ana. Saia dessa fumaça.
- Não. – Foi a resposta seca. – Eu levo minha mulher. – Ergueu-a nos braços com todo cuidado e mesmo assim ouviu gemidos de dor. – Desculpe Baby. Um médico logo vai te atender.

Tudo o que Ana pensava era em seu bebê. Ele tinha que sobreviver. E porque tinha que sentir tanta dor? Grey a colocou deitada na grama longe o suficiente da casa que começava a ser consumida pelas chamas e cobriu seu corpo com a camisa jeans que tirou do próprio corpo. Ao longe começaram a ouvir as sirenes da polícia e ambulância.

- Calma baby...já vai passar. – Ela queria responder, mas não tinha forças.
- Senhor Grey...é a polícia vindo. Vamos deixar o corpo lá? O senhor trouxe a arma?
- Não, não trouxe nada. E ninguém vai se arriscar a entrar lá para pegar. Deixa ele queimar junto com a arma. Que queime aqui e queime no inferno que é o lugar dele.


- Mano...como você está? Não respirou muita fumaça? Também precisa de atendimento.
- Estou bem. Não começa com essa merda Elliot! Eu vou com a Ana. Liga pra todo mundo e avisa que Jack tá morto e nós vamos ao hospital cuidar da Ana.
- Sr. Grey?
- Fale Taylor. O que é agora?
- Acho que devia contatar um advogado. O senhor descarregou uma arma nele...pode ter problemas, apesar de tudo.
- Cuide disso pra mim, por favor. Você sabe os números dos meus advogados. E é bom que ninguém venha encher meu saco com isso! – Ana estava assustada e começou a tremer. – Chega desse assunto. Agora eu só vou cuidar de você, amor, só isso.
- Te...T..Tedyy. – Ela tentava perguntar pelo filho.
- Não se preocupe. Teddy está bem, está em casa com todos. Pense apenas em ficar boa logo.

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