sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 5: Nove meses de pura emoção



            - Como assim mantenha a calma mãe? Você pensa que é fácil?! Eu estou na Inglaterra e sou avisado que minha mulher está em trabalho de parto há 10hs e, teimosamente, prefere ariscar a vida para insistir num parto normal e você quer que eu esteja calmo?!

            Do outro lado da linha Grace respirou profundamente antes de dar uma resposta dura ao filho.

            - Bom Chris, levando em consideração que você não acompanhou a gravidez de sua ex-mulher e até hoje não assumiu seu filho como devia, eu sequer deveria ter atendido a sua ligação. Você não tem poder de decisão aqui Christian.
            - Mãe! Eu estou preocupado com a Ana! E é claro que vou registrar a criança. – Mesmo que não desejasse nenhum contato mais próximo.
            - Aaaa isso você vai mesmo! Nem pense em deixar meu neto sem o sobrenome do pai! E agora tenho de desligar e ficar com a Anastásia. Não ligue mais porque eu não lhe direi nada. E não adianta ligar para o seu pai! Agora só terá notícias se vier aqui.

            Ouvir o piiiipiiiipiiii do telefone só serviu para deixar Grey ainda mais nervoso. Sem pensar duas vezes chamou Taylor.

            - Mande preparar o avião e tome todas as providências. Preciso do jato pronto para decolarmos o quanto antes.

            - Para onde, Sr.?
            - Para casa. Tenho de colocar algum juízo na cabeça da minha esposa. – Ele não percebeu, mas Taylor tinha um grande sorriso nos lábios. Sempre achou seu patrão menos rabugento tendo Ana por perto.

            Os últimos meses foram como um turbilhão de emoções. Ninguém entendia verdadeiramente as razões para se afastar da sua fonte de felicidade. Alguns achavam que ele era um monstro. Talvez essa seja a verdade. E ninguém o estava poupando de ouvir a verdade.

            O primeiro a lhe fazer uma visita nada amigável foi Ray. Fazia apenas dois dias que ele e Anastásia haviam conversado na sala dela, na editora, e falava com meu advogado quanto ao que faria para atrasar o processo de divórcio quando meu sogro invadiu o escritório.

            - Seu desgraçado! – Foi só o que ouvi antes de sentir o punho de Ray atingir meu queixo. Ele bate bem e eu merecia, por isso não revidei. – Como pode abandonar Anastásia?
            - O Senhor está mal informado. Foi sua filha que me deixou. – Disse mesmo sabendo que ele já tinha essa informação.

            Meu advogado resolveu interferir.

            - Srs., vamos manter a ordem? O senhor Grey poderia lhe processar por isso. – Disse o emproado homem.
            - A ele poderia sim, mas eu acho que não fará! E sabe por quê? Porque ele sabe que merece bem mais que apenas um murro! Tem de ser muito desclassificado pra fazer um filho e não assumir! E se quer saber Grey? Ainda bem que a Ana abriu os olhos e te deixou. Ela vai criar muito melhor  esse filho sem você.

            Depois ele saiu batendo a porta e eu nunca mais vi meu sogro. O senhor Jenks, meu advogado para assuntos pessoais, ainda perguntou se eu gostaria de deixar a conversa para depois, mas eu quis seguir logo após colocar gelo no queixo. Droga! O pai da Ana é forte!

            - Grey, eu preciso lhe perguntar se...se você e a senhora Anastásia tinham um casamento normal ou...bom ou...- Jenks trabalhava comigo há muitos anos e era de total confiança. Foi a ele, anos antes, que confiei a redação dos dois documentos que exigia que minhas submissas assinassem. Ou seja, Jenks é uma das poucas pessoas que conhecem o meu segredo.
            - Ana é minha esposa, Jenks, mas se o que quer saber é se eu a levei até meu quarto de jogos, sim, ela esteve lá. Apesar de jamais ter sido minha submissa, ela experimentou algumas práticas sádicas. E isso foi, em parte, o que causou meu divórcio.
            - E ela assinou o contrato?
            - Não! Eu já disse, ela não era minha submissa. Sempre foi minha companheira.
            - E o termo de confidencialidade? – O homem estava suando de nervoso.
            - Ela assinou, mas...eu rasguei depois que casamos.
            - NOSSA Grey! Agora você está numa enrascada. A julgar pelo seu sogro, não será um divórcio amigável. E você está nas mãos dessa mulher. Não tem nada que a impeça de falar das suas práticas sadomasoquistas e, além disso, vocês se casaram em regime de comunhão total dos bens. Isso faz dela dona da metade dos seus bens, já que ela não tinha nada ao casar.
            - Não estou preocupado com isso.
            - Pois deveria! Uma mulher revoltada causa desastres! Ela pode até mesmo te chantagear Grey. Ela sabe de muita coisa.
            - Mas é de total confiança. Minha Anastásia é de uma integridade sem tamanho.
            - Sua? – O homem perguntou.
            - Sim e é aí que você entra. Eu não me importo nenhum pouco com acordos financeiros. Mas faço questão que a Anastásia continue sendo minha mulher. Quero que você inicialmente aguarde para ver se ela entrará com o processo de divórcio e, quando isso ocorrer, faça com que se prolongue. Eu não quero me separar.
            - Eu entendo, senhor Grey, mas devo alertá-lo que, se sua mulher realmente não quer nada seu e com pouco tempo que ficaram juntos, o juiz não levará muito tempo para dar um parecer favorável. Se ela exigisse muito dinheiro, nós ainda poderíamos questionar o valor e atrasar tudo, mas se ela aceita sair sem nada, nada pode segurá-la.
            - Aí é o outro ponto. Jenks, eu exijo que Anastásia saia amparada desse casamento.
            - Nós não podemos obrigá-la a aceitar dinheiro Grey.
            - Terá de encontrar um meio! Eu quero sustentar Ana pelo resto da vida. Ela é minha mulher e não vai passar nenhuma necessidade. Fui claro?
            - Sim, muito. Realmente, esse não será um divórcio comum. – Depois de um suspiro o advogado voltou a falar. – Só que lei é lei Grey. A única coisa que posso garantir é que você dará uma pensão alimentícia à criança caso você não conteste a paternidade. Para nada além disso eu tenho aporte legal.

            Depois que Jenks foi embora cheguei a sorrir. No final, era justamente o bebê que me garantia algum contato com Ana.
            Depois disso tudo tomou um ritmo muito ágil. Os meses passaram e o natal chegou. Sabia que Ana estava morando no apartamento que ocupou com Kate logo depois da faculdade. Ela não veio passar o natal conosco. Eu já imaginava. Mesmo assim lhe mandei um presente. Era um vestido divino. E Mia me entrou a caixa rejeitada pela dona.

            - É bem feito Chris! Não pode lhe mandar um vestido desse quando ela está grávida de quatro meses. – Eu me senti um idiota quando ela me mostrou uma foto de Ana com o ventre já bem arredondado. – Além disso, para o bebê você não enviou nada.
            - Eu não quero me aproximar!
            - Então terá que se afastar da Ana também.
           
            Em fevereiro saiu o divórcio. Ana e eu ficamos frente a frente com o juiz e eu ainda lhe pedi para reconsiderar.

            - Minha decisão está tomada Grey. Eu e meu filho seremos felizes longe de você.

            Nem mesmo a questão financeira consegui fazer do meu jeito. Ana alegou que não era obrigada a receber pensão alimentícia enquanto o bebê não gerasse gastos alimentares. Quando seria isso? Daqui a um ano talvez? Para lhe melhorar as condições, aumentei seu salário na editora. Para isso precisei elevar os rendimentos de todos os editores. Mas isso não era problema. O importante era Anastásia não passar nenhuma necessidade. Além disso, mensalmente eu pedia para Taylor lhe levar um cheque. Mas ele sempre voltava com a mesma resposta.

            - Nós não estamos precisando. Diga para o Grey depositar em uma poupança...talvez no futuro o filho dele aceite o presente. Enquanto a decisão for minha, a resposta será não.

            O menino nem tinha nascido e já acumulava uma gorda poupança.

            Em abril veio o casamento de Elliot e Kate. Eu pensei em deixar de ser padrinho. Kate deixou claro que adoraria essa mudança, mas meu irmão ficaria magoado e essa era minha oportunidade de ver, de estar novamente junto com Ana. Ela estava linda, mas o vestido tinha uma cor triste.

         
            Tentei conversar.

            - Como você está, Ana?
            - Ótima. Melhor impossível. – Mas eu via em seus olhos que isso não era verdade.

            Quando ela abraçou Kate eu pude ouvir o que disse à noiva.

            - Tenho certeza de que seu casamento será mais feliz que o meu.


            Depois de tantas horas em claro passadas durante um longo voo, repleto de lembranças dos últimos meses aqui estou, frente ao hospital onde Anastásia daria a luz...se é que ainda não nasceu. Afinal fazem horas que minha mãe não atende ao meu telefone.
            Meu sobrenome facilita muito as coisas e em minutos eu estava na sala de espera da maternidade. Meu pai apareceu.

            - Como ela está? Foi tudo bem? Nasceu?
            - Filho! – Meu pai me abraçou. – Eu sabia que você viria. Sabia que não abandonaria seu menino aqui.
            - Pai eu...eu vim ver a Ana. – Disse apenas para ver as feições de meu pai se fechar.
            - Então pode ir embora. Nasceu e Ana está bem.
            - Carrick, preciso de você aqui. Fique com Ana. É uma emer...- Mamãe parou quando me viu.
            - O que há com Ana, mãe? Qual é a emergência?
            - Não há nada de errado com Anastásia e, como você não se importa com seu filho, não há porque saber o que se passa Christian. – Ela deu as costas e saiu pelo corredor chamando meu pai.

            A criança tinha algum problema? Será que é isso? Mas porque meu pai deveria ir ficar com Ana? Não esperei e segui minha mãe.

            - O que há? Fale mãe? Eu sei que está brava comigo, mas...
            - E eu não tenho razão para estar brava, Christian? Eu, que acolhi e amei vocês, agora vejo meu neto sendo renegado! Tem noção do sofrimento que você está me causando?
            - Eu não posso mãe! – Disse.
            - Ótimo. Então vá embora. – Ela seguia andando e eu a seguindo pelos corredores do hospital.
            - Diga o que há de errado? Não nasceu bem a criança?
            - Nasceu Christian. Você é pai de um lindo menino de 2.950kg e 50 centímetros. Depois de mais de 14 horas de trabalho de parto a Doutora convenceu a Ana de que era necessário uma cesariana. Foram momentos tensos, mas tudo acabou bem. Ambos passaram bem pelo parto.
            - Então qual é a emergência? – Quando percebi estávamos na frente do berçário. Havia choro. Muitos choramingos de bebês e um choro mais forte, mais desesperado. Não sei por que, mas eu soube que esse choro mais forte era do meu filho. – O que há com ele? Por que está chorando assim?
            - Está chorando de fome Christian.

            De fome? Como assim? Um bebê recém nascido choraria com tamanho desespero apenas por fome. Eu sei o que é sentir fome, o que é chorar de fome. Meu filho não vai passar por isso nunca.

            - Oraaa então levem ele pra Ana dar o peito logo! – Eu sabia que a minha Anastásia não seria dessas mulheres que não desejam aleitar os próprios filhos por pura vaidade. Ela seria uma grande mãe. – Não o deixem chorar assim droga!
            - Ele foi levado pra mamar assim que Anastásia foi para o quarto, mas começou a passar mal. Achamos que ele tem alergia a proteína do leite.
            - Eu achava que isso era contra leite de vaca, não leite materno.
            - Sim, a maior parte, mas ele rejeitou o leite materno. Fizemos uma lavagem estomacal no pobrezinho e estamos fazendo testes para saber a quais proteínas presentes no leite ele é alérgico. Quando o resultado sair, vamos comprar um leite específico.
            - E enquanto isso ele fica com fome?
            - Não a nada que possamos fazer. Ele não pode mamar outra coisa porque vai passar mal novamente.
            - Doutora Grey...aqui, saiu o resultado que a senhora pediu urgência. O menino precisa desse leite. Nós temos um pouco na enfermaria. – Disse uma enfermeira que veio correndo.
            - Ótimo. Dê a ele. – Depois ela me olhou. – E você, pegue essa receita e vá a uma farmácia comprar uma lata desse leite. Ele é caro e você vai prover isso ao seu filho. Ana não poderá negar isso porque ela não teria condições de arcar com mais esse custo.
            - Ok. Eu nunca me neguei de pagar nada. – Respondi.
            - Vá agora Grey! E é você que vai comprar. Nada de mandar o Taylor. Não estava preocupado com o menino chorando de fome? Pois bem! Faça algo de útil Christian Grey.

            O leite era realmente caro, não pra mim, é claro, mas pessoas pobres teriam dificuldade em comprar o alimento. Cheguei com duas latas para deixar no hospital. Depois mandaria mais para a casa de Ana. Quando fui procurar minha mãe para entregar, vi uma enfermeira dando o leite ao garoto num copinho.
             - Não se preocupe. Ele não irá engasgar. Já se acalmou. Seu filho tem gênio e garganta forte Grey. – Disse minha mãe. Ela pegou as latas. – Quer pegá-lo ou ver a Ana?
            - Melhor não mãe. O leite está entregue e eu pedi pra mandarem flores pra Ana.
            - Christiam, por favor...
            - Não! Eu não quero ficar vendo ele.

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